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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Bruxelas - semana 1

Num jantar com uns tios meus na passada terça-feira, surgiu a ideia de ir escrevendo o que vai passando durante a minha estadia em Bruxelas, onde estarei no primeiro semestre deste ano ao abrigo do programa Erasmus+, e acho que é algo que vou cumprir numa base semanal: assim, não corro o risco de, quando contar as histórias, me lembrar das memórias e não do que aconteceu em si, além de que raramente me aborrece escrever e ainda mais sobre o que vou fazendo.

Não pensei que fosse acontecer, mas estou com alguma inércia inicial agora nestes dias. O meu grupo tem sido eu, a minha colega de casa (Filipa), que conheci no curso de Francês na FLUL, um colega meu de curso no Técnico (Nelson) e uma italiana (Ilaria), uma espanhola (Mireia) e uma suíça (Seline, que pensava que era alemã pois é de Friburgo que, para mim, só existia nesse país da União Europeia). Estas três últimas fazem parte do grupo mais aleatório de sempre; fiz um post numa página de Erasmus para arranjar casa, elas as três deram like e/ou comentaram, e criei um chat em conjunto; acabámos por ficar os quatro em habitações diferentes, mas agora não se iria ficar apenas pelo Facebook. A casa é bacana, o senhorio é fixe e a Filipa, apesar de ser preciso puxar por ela, costuma alinhar nos planos do pessoal - a quem ontem se juntaram amigos nossos de Leuven, aqui perto.

Tenho tentado falar o máximo possível em Francês, especialmente com os locais. Com outros estudantes de Erasmus, a equação é simples: se são brasileiros, falamos Português, se são espanhóis, não falamos Inglês (com a Mireia, ou falamos Espanhol ou, quando ela começa a puxar para o anglo-saxonismo, eu mudo para o idioma gaulês), com canadianos, como com os que conhecemos ontem, depende do número de cervejas em cima. Que são mesmo muitas, mesmo para um gajo se perder de vez em quando.

O tempo tem estado bom, ao que parece, melhor que o normal, mas o Miguel, o meu senhorio, já avisou que para o mês que vem isto é coisa de começar a anoitecer por volta das 16h30. É demais, mas um gajo habitua-se; o que é mais estranho é mesmo a casa-de-banho ser no piso de cima, sendo que são quatro, e para ir às compras ter de me deslocar a cada uma das patisseries, boulangeries, brasseries e outras coisas acabadas em -ies - onde é tudo muito mais caro que em Portugal pois hoje, por exemplo, não comprei nada de especial e gastei 25€, o que no Pingo Doce da Carlos Mardel me deixa abastecido por uma semana. São estas as coisas que tenho vindo a estranhar, dado estar habituado à minha vida simples em Lisboa, mas pelo menos tenho a noção disso e portanto vou lutar contra esta "preguiça" até ela desaparecer.

Depois, é raro eu ser o gajo que não quer andar em grupo, mas hoje, quando fomos ver o Sporting levar três do Rio Ave aqui ao Café Portugal (com SuperBocks e a Casa do Benfica, portanto, perto de ser o Paraíso), reparei que o pensamento genérico do pessoal é "se todos forem eu também vou, então" e "não me apetecia muito mas não ia ser o único a não ir". Pessoalmente, gosto quase sempre de ter companhia e é raro não a querer, mas há já alguns anos que deixei de não fazer seja o que for por estar sozinho - o que é uma maneira de pensar que me faz sempre receber um clássico "então mas vais sozinho?!" mas, ao pé da minha colega polaca no Técnico com quem fui ao Algarve em Julho, o meu individualismo não é nada. Se a malta vier comigo é fixe, se não, dia 30 estarei na mesma em Munique para a Oktoberfest sem problema nenhum.

Tenho este blog há uns cinco anos mas não sei de ninguém que o leia sem ser quando espeto o link de uma nova publicação no chat do Facebook e, como tal, isto é um pouco como quando nas madrugadas de Lisboa vou nu, sem óculos nem lentes, para a varanda após ter estado em vias de facto no meu quarto (especialmente agora que já tenho o estrado da cama arranjado); se eu não consigo distinguir ninguém a olhar para mim, então não me causa qualquer confusão que o estejam a fazer. Portanto, como, até ver, e de certo modo ainda bem que assim o é, o Uspeti é quase como escrever no Word e guardar numa pasta qualquer, vou falar de relações nestes posts, coisa que evito ao máximo fazer em público na internet.

Nesse mesmo dia em que fui jantar a casa dos meus tios, fui em seguida ser entrevistado para o Observador, tendo em vista um artigo sobre o MEFT ser agora o curso com maior média de entrada (que pode ser lida aqui). A entrevistadora, que já nos seguíamos no Twitter há alguns meses, conseguiu surpreender-me e ser uma pessoa ainda mais interessante que o que eu pensava, o que tem sido cada vez mais difícil de encontrar. Digo, encontrar que não tenha já namorado, o que, na verdade, faz sentido: se eu considero uma tal rapariga um bom partido, certamente que não serei o único a fazê-lo, e vice-versa. Por isso é que foi mesmo fixe tê-la conhecido termos ido depois ao Real depois da entrevista, e tê-lo-ia sido ainda mais se no dia seguinte ela tivesse podido ir ter comigo ao PubhD, uma das melhores iniciativas de Lisboa. Não pôde e eu agora vim para Bruxelas, porque enfim, quando finalmente encontro uma potencial "a tal", se não está comprometida, é porque eu vou passar três meses no centro da Europa.

Como disse, é-me cada vez mais difícil encontrar um gaja que ache que valha de facto a pena. Já estou farto de estar em cenas que sei que não vão dar, e que provavelmente até poderiam dar e eu é que adoto desde logo essa mentalidade, mas isso é porque, nas que achei que iriam, foram elas que acabaram, e eu fico sempre todo fodido (o que não se verifica ao contrário, e ainda bem). Por isso, não sei bem como será a minha vida aqui nesse aspeto, tenho evitado pensar muito sobre o assunto, o que é impossível mas pelo menos vou tentando e, conhecendo, duvido mesmo que me envolva em algo de especial. Só sei que, conhecendo a minha cabeça dura, vou chegar a Portugal e querer na mesma voltar a sair com a Marta, aconteça o que acontecer por cá; quero bué voltar a ativar o modo Disney, como dizem os meus amigos para gozarem com o facto de me estar a cagar para colecionar gajas, e isso não será em Bruxelas de certeza. Se será com ela ou não, veremos.

Pedro Mendes

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