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quinta-feira, 15 de maio de 2014

Não chega já, senhor Guttman?


"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better." Esta frase, celebrizada pelo escritor irlandês e Prémio Nobel da Literatura Samuel Beckett, está também escrita na pele do tenista suíço Stanislas Wawrinka. 
"Stan", de vinte e nove anos, passou quase toda a sua carreira "na sombra" do seu compatriota Roger Federer, recordista de vitórias em torneios do Grand Slam e ainda de semanas como líder do ranking mundial; porém, no último ano e meio, o atual número três mundial elevou o seu nível de ténis para algo nunca antes visto - muitos dizem que o "clique" foi a sua vitória na temporada passada aqui no nosso Portugal Open - e, este ano, já venceu o Open da Austrália após derrotar pelo caminho Novak Djokovic e Rafael Nadal, e ainda o torneio de Monte Carlo, sendo nesta altura o tenista que mais pontos fez em 2014.

Mas, perguntam vocês, o que é que isto tem a ver com o Benfica? Eu explico.
Para ganhar em Melbourne o primeiro Major da temporada, o Wawrinka, conforme já referi, teve de derrotar nos quartos-de-final o tricampeão em título e meu tenista preferido, Novak Djokovic. Esta vitória teve um grande significado pois, além de lhe ter dado a chegada às meias-finais do torneio, foi alcançada após na época de 2013 o suíço ter estado muito perto de derrotar o sérvio em dois torneios do Grand Slam (também no Open da Austrália, e ainda no US Open).
E, no fundo, é disto que é feito o desporto. Uma vez ganham uns, outra vez ganham outros, mas por norma, ganha quem mais se esforça por merecer ganhar. Parece simples, não é?

Sim. Mas não é isto que se tem passado com o Benfica em competições europeias. Eu estudo ciências, ainda para mais a área da Física, onde, aparte das teorias modernas como a dualidade onda-partícula - quanto à qual, honestamente, acredito ser "apenas" uma teoria intermédia -, as coisas ou são, ou não são, e uma maldição é algo muito pouco racional para eu acreditar.
Porém, já começa a ser "demais". Já lá vão oito finais consecutivas perdidas. Tudo bem, na década de 60, ganhámos as primeiras duas e perdemos as outras três... Conforme disse, uns ganham outros perdem. E tudo bem, na década de 80, perdemos as três a que chegámos, mas também não fomos favoritos em nenhuma delas. E tudo bem, na temporada passada defrontámos uma das equipa mais ricas da Europa, e a equipa era inexperiente nesse tipo de jogos... Agora, este ano caralho?! Indo à final da mesma competição pelo segundo ano consecutivo, e a jogar outra vez um grande futebol? O que é que falta, afinal?

Não consigo mesmo perceber. Antes de mais, não concordo nem um bocadinho com quem volta a dizer, este ano, que está orgulhoso da equipa. Não há desculpas para a atitude de ontem, que foi exatamente igual à do ano passado; jogar a medo, e sem fazer a mais pequena ideia do que fazer com a bola no último terço. E, a sério, não venham com desculpas da arbitragem, pois o jogo acabou por ir a penalties e aí falhámos metade. E não digam que faltava lá o Enzo Pérez ou o Lazar Markovic, pois nenhum deles teria agarrado nos pés do Gaitán ou do Rodrigo - que, mantenho, jogam ZERO em jogos decisivos - para os obrigar a pôr a bola na baliza. O que falta é mesmo outro tipo de mentalidade neste tipo de encontros, e é por isso que, apesar de isto agora ser fácil de dizer e poder soar a hipocrisia, o Jorge Jesus já esgotou o seu crédito no Benfica... Percebi ontem que ele não perdeu esta segunda final por ter voltado a errar, mas sim por ser mesmo uma limitação inerente à sua pessoa. Reconheço-lhe todo o mérito e mais algum por ter posto a equipa a jogar de novo bom futebol este ano - era muito fácil termos caído numa espiral negativa -, mas ele pôs o Benfica num patamar demasiado alto para ele. E é mesmo por isso que acho que deve sair.

Por outro lado, lá está, as oito finais que o Benfica já perdeu não tiveram todas o Jorge Jesus como treinador. E este ano até já havíamos perdido outra, a da Liga dos Campeões sub-19, e curiosamente também contra uma equipa espanhola. É irracional acreditar nesta maldição de merda, mas é também, ao mesmo tempo, perto de inevitável. E é por isso que não irei voltar a ver o Benfica a disputar uma final europeia. Não aguento outra. E se for para a ganhar, não me importo que eu não veja o jogo. Eu só quero o Benfica campeão.
E, quanto a isto, estou orgulhoso sim. Estou orgulhoso por estar triste por o meu clube, campeão nacional há quase um mês, vencedor da Taça da Liga e finalista da Taça de Portugal, ter chegado a duas finais europeias consecutivamente e ter perdido uma delas no desempate por grandes penalidades, sendo que na competição desta temporada ninguém o conseguiu derrotar, sequer, em duas horas de jogo. Isto é o Benfica, e quer eu queria quer não, irei sempre torcer por este clube.

Pedro Mendes