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sábado, 2 de março de 2013

Que se lixe a troika

Parece que tem hoje lugar mais uma manifestação contra as medidas de austeridade, a troika, o governo, a educação e todos os motivos que os manifestantes arranjem para protestar nas ruas. E aqui estou eu, em frente ao computador, com a televisão ligada e a pensar no sentido que isto faz.
Okay, por acaso no momento em que estou a escrever isto estou mais a pensar no que vou lanchar mas como se tem falado nisto ao longo do dia decidi escrever qualquer coisa, já que também não tenho publicado desde Janeiro.

Em primeiro lugar, eu não sou contra o protesto; até sou a favor. Como diria o filósofo francês Albert Camus - alguma coisa tem de ficar na cabeça após ter tido dois anos de Filosofia -, a revolta é uma necessidade do ser humano, que é naturalmente revoltado com o que não lhe agrada e que portanto tem o direito (e dever, talvez, de se revoltar). Eu pessoalmente defendo isso, que nos devemos revoltar, mas temos de saber o que estamos a dizer e a fazer.

Queremos mandar o governo abaixo. Certo, o governo cai... e depois? Nós somos um eleitorado muito fácil de convencer: votamos em quem prometer que nos dará dinheiro, ou pelo menos que não nos tirará.
É sempre isto que acontece nas eleições. Claro que os políticos têm culpa em prometer o que não vão cumprir, mas eles fazem isso porque sabem que se falarem "verdade" ninguém vota neles; alguma vez elegiríamos para primeiro-ministro um homem que dissesse que a austeridade ia continuar e talvez até aumentar? Claro que não! Por isso é que aquele banana do António José Seguro veio hoje dizer que os portugueses "têm direito a estarem indignados". Porque se fosse com ele no governo, não haveria austeridade e estaríamos todos ricos não é?

Há bocado vi também um rapazinho a dizer "temos de vir para a rua protestar para que a troika se vá embora". E depois de a troika se ir embora, como os teus pais te disseram que é o melhor que pode acontecer ao país, quem é que paga a dívida? Vais tu ao Monopólio buscar notas de 500 para pagar?
Repito, também estou descontente com o facto de sermos nós que estamos a pagar uma crise pela qual não somos responsáveis e termos cada vez menos dinheiro. Porém, temos de tentar olhar imparcialmente para o que se passa e tentar perceber o que se deve fazer!

É um facto que andámos a viver acima das nossas possibilidades; sim, os outros países também mas não são esses países que têm de resolver o nosso problema - nem a Alemanha, que nós gostamos tanto de dizer que são a fonte de todo o mal mas eles estão a perder dinheiro connosco e quando entrámos para a UE estava no Tratado uma cláusula que dizia que nenhum país era responsável pela dívida dos outros. Portanto, somos nós que temos de pagar isto; quando digo nós não me refiro especificamente a nós, contribuintes.
São os bancos e os políticos corruptos que temos que são os principais responsáveis e devem ser punidos pelos seus actos, mas nós também teremos sempre que pagar pois o povo é a maior classe social do país. Daí não me opor contra a perda do 13º e 14º mês. Vou ser sincero: ficava chateado se me cortassem esses dois subsídios, claro que ficava. Mas se pensarmos bem, é injusto recebermos "apenas" doze ordenados por doze meses de trabalho? Se trabalhamos para x, recebemos x! Em tempos de crise penso que ter um subsídio já é de certo modo descabido, então ter dois é mesmo um gasto de dinheiro dispensável.

Depois, sempre que vejo alguém a entrevistar um manifestante e lhe pergunta em quais seriam as soluções que tanto proclamam, as respostas são sempre as mesmas: "o governo é que sabe", "não sei, mas de certeza que há", "qualquer coisa seria melhor do que isto". Basicamente, protestamos por mudanças que nem sequer sabemos conjeturar? Onde está aqui a coerência que pedimos aos nossos políticos?
É que não há solução. Fizémos merda, entrámos em crise, e saíremos com muito sacrifício. Se o sacrifício não tem de cair quase totalmente no povo? Obviamente que não, eu próprio também estou descontente. Mas cairá sempre sobre nós, e temos de entender isso.