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quarta-feira, 16 de julho de 2014

Mundial 2014

A minha ideia era fazer um post sobre Wimbledon e o Mundial, mas dado que já lá vão dois meses desde o último - estar de férias é chato na medida em que posso fazer imensa coisa, mas acabo por fazer exatamente o mesmo que faço durante as aulas, apenas com a diferença de o fazer por mais tempo -, vou escrever apenas sobre o Mundial, e depois faço uma antevisão do US Open mais detalhada. Afinal, temos que poupar árvores (virtuais), logo papel (virtual).

Apesar de ter sido apenas o terceiro que vi em tempo real, penso que esta é a melhor edição de que me lembro do Campeonato do Mundo FIFA. Grandes jogos, grandes surpresas, grandes golos, e um vencedor que mereceu por completo esta vitória e que me deixou relativamente satisfeito.
Mas já que já falei na Alemanha, é impossível falar do seu percurso no Mundial sem mencionar a nossa seleção. Honestamente, a minha seleção preferida sempre foi a Holanda, e em Mundiais acho que torço mais por eles que por nós - em Europeus já não, mas qualquer pessoa que perceba de futebol consegue ver que a Laranja é a seleção que mais merece um título de campeã mundial. Começámos logo a levar quatro dos alemães, mas esse nem foi o principal problema, na minha opinião: era de esperar uma derrota frente a uma seleção mais forte que a nossa (e que todas as outras, afinal). O que fodeu tudo foi, claro está, termos empatado contra os Estados Unidos. Voltámos a não jogar nada, o Ronaldo voltou a mudar o penteado, o Bento voltou a pôr o Veloso em vez do William, e pronto, deu merda.
Há muitas desculpas que se podem arranjar para esta nossa prestação desastrosa, mas acima de tudo, perdemos porque somos uma seleção de um homem só (porque queremos, pois temos pelo menos mais dois jogadores que eram titulares em qualquer clube do mundo), porque temos um treinador que aposta sempre nos mesmos jogadores (se bem que aí, o problema da não-renovação já vem de trás), e porque achamos sempre que somos candidatos a ganhar alguma coisa só porque, lá está, temos o melhor jogador do Mundo. Para mim, até ganharmos sequer alguma coisa (dado que nem um Campeonato da Europa temos), somos tão candidatos como, por exemplo, a Bélgica. E de certeza que eles são mais humildes que nós.

Quanto às outras equipas, houve muitas surpresas conforme já referi. No Grupo A, pouco a relatar sem ser a prestação um pouco desapontante da Croácia. No Grupo B, a Espanha foi finalmente de vela. Torci por eles no Euro 2008, mas desde que fizeram com que a Holanda voltasse a perder a final de um Mundial que fiquei farto do tiki-taka. No Grupo C, a Inglaterra floppou, como sempre (esses ainda são piores que nós, pois nós "só" nos achamos tão bons como os outros, eles acham que são mesmo os maiores), a Itália subestimou os adversários depois do primeiro jogo (adoro ver o Pirlo jogar, mas por não ser humilde perdeu a meia-final da Liga Europa contra nós e nem chegou a Julho no Mundial), e a Costa Rica fez o brilharete de ganhar este grupo com três campeões mundiais, e acabou por só perder nos penalties nos quartos-de-final! No Grupo D, a Grécia passou borrada e a Costa do Martim floppou (para não variar), e gostei bastante de ver o Japão jogar, mas não tinham grande equipa.
Depois, no Grupo E, a França passou em primeiro sem grande surpresa (e quase fazendo toda a gente se esquecer que só não ficaram no Grupo C porque o Platini lhes fez o jeito de evitar que não ficassem no pote europeu, o que acabou por dar resultado). No Grupo F, gostei de ver a Nigéria a passar mas tive pena pela Bósnia; com uma equipa mais experiente, teriam dado muito mas luta aos argentinos, que iam empatando contra a equipa do Carlos Queiroz (acho que por aqui dá para ver o nível que a Argentina apresentou na fase de grupos). Quanto ao Grupo G, o nosso, não há muito a acrescentar - a não ser mencionar que os norte-americanos pareciam mesmo interessar-se e perceber de futebol durante esta fase da competição -, e o Grupo H contou com uma Rússia extremamente desapontante e uma Argélia histórica, além de uma Bélgica que não convenceu especialmente.

E se a fase de grupos foi cheia de surpresas na maioria dos grupos, já a fase a eliminar foi muito mais previsível. Antes de mais, este foi o primeiro Mundial onde os quarto-finalistas foram, sem tirar nem pôr, os vencedores dos oito grupos; é certo, que com exceção da Colômbia, não se pode dizer que as outras seleções tenham ganho categoricamente os seus encontros dos "oitavos", mas acabaram por o fazer, e no futebol é isso que conta.
Já nesta fase se previam umas meias-finais Brasil - Alemanha e Argentina - Holanda, e foi mesmo isso que aconteceu. E foi aqui que se deu o cataclismo! Depois do Maracanazo, eis o Mineirazo! O choque! A humilhação! A vergonha! Okay, e chega de ser parvo.
Não vale a pena dizer muito mais sobre isto, já foram feitas todas as piadas possíveis e imaginárias e já foram dadas muitas explicações. Para mim, esta derrota do Brasil deve-se, antes de mais, ao excesso de confiança que havia antes do Mundial. Tudo bem, organizam em casa, são o país do futebol, mas este não é o Brasil cujo quarteto ofensivo chegou a ser algo do género Kaká-Ronaldinho-Ronaldo-Adriano... Com Fred e Jô como pontas-de-lança (para não falar também no Hulk, que acho ser um jogador fenomenal mas que na seleção não joga nada), e deixando de fora os dois primeiros desses quatro de que falei, há que refrear as expetativas desde o início. Além de que, conforme muitos especialistas disseram, o Brasil esteve até este ano a pensar que estava avançado em termos futebolísticos, mas vê-se agora que está, sim, atrasado. E estas coisas demoram tempo, como demorou para a Alemanha.

A final foi, assim, o sempre clássico Alemanha vs Argentina. Foi o primeiro jogo do Mundial em que estive a torcer pelos alemães (apesar de, pelo Enzo, e também de certo modo pelo Rojo e pelo Messi, ficasse feliz caso fosse a Argentina a ganhar), e penso que foi uma vitória justa. É o culminar de um projeto que começou no início deste milénio, e que deve servir como exemplo para qualquer país. Já a Holanda acabou por perder para os argentinos nas meias-finais, mas o facto de ter ganho depois o jogo do 3º/4º lugar já foi histórico na medida em que esta foi, assim, a primeira edição do Mundial em que os holandeses não perderam nenhum jogo. Espero que este seja o "clique" para o "nosso" tão desejado título mundial!

Para terminar, os prémios. Antes de mais, não percebo o choque mundial por Lionel Messi ter ganho o prémio de Melhor Jogador do Mundial 2014. Se eu lho teria dado? Não, pessoalmente acho que ficaria melhor entregue nas mãos de Arjen Robben, Toni Kroos, Javier Mascherano ou até mesmo Manuel Neuer - que, sem grande surpresa, ganhou o prémio para melhor guarda-redes. Agora, o Messi foi Homem do Jogo em quatro jogos. É verdade que não marcou nenhum golo depois da fase de grupos, mas foi o jogador que mais oportunidades criou neste Mundial. Deixemo-nos deste patriotismo estúpido de lamber o cu ao Ronaldo e "odiar" o argentino, pois, volto a dizê-lo, eles nem sequer são rivais. Para mim, quem acha que o Messi é um jogador "banal", que só joga bem no Barcelona (se calhar Pelé, Charlton, Beckenbauer, Gerrard, Totti, Raúl também são banais, dado que jogaram sempre no mesmo clube), não percebe nada de bola, simplesmente. Estamos a falar de um jogador que, mesmo sem um título de campeão do mundo (de seleções, por clubes já foi três vezes), tem quatro Bolas de Ouro e três Ligas dos Campeões. Acho que é alguma coisa. E é verdade que ele acaba por não aparecer na equipa ideal do Mundial, mas não me parece que, por exemplo, o Óscar mereça estar lá mais do que La Pulga.

Um bem-haja,
Pedro Mendes