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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Entrevista a Freud

Ontem, um colega meu emprestou-me numa aula um livro de uma série do Expresso sobre grandes entrevistas da História, e se eu já estava com pouca atenção ao Teorema da Amostragem, com menos ainda fiquei. Comecei a ver quais os nomes dos entrevistados e, apesar de também me ter interessado por saber o que Benito Mussolini ou Júlio Verne disseram, foi a última de todas, ao famoso psicanalista austríaco Sigmund Freud, que fui de imediato ler.

As teorias de Freud, e de, antes dele, Nietzsche, sempre me despertaram interesse. Sempre tentei conhecer o máximo que consigo no meu dia-a-dia, e tenho um especial fascínio por áreas como a psicanálise, a psicologia, a psiquiatria, que, no fundo, debatem e tentar interpretar a mente humana, que é provavelmente o mais complexo que pode existir no Universo - só suplantada, claro, no caso específico da mente humana feminina. Não segui essa área de estudos, pois sempre me vi numa área mais "exatamente científica" (... ou jornalismo, ainda não sei bem), mas a cada ano que passa estou cada mais inclinado em me virar para a neurociência no meu mestrado. No fundo, quero estudar o que me faz querer estudar o que quero estudar.

Ora bem, o primeiro tema da conversa é sobre a morte. Freud refere que "a morte é o parceiro natural do amor" e, quando confrontado com perguntas sobre se tinha medo de morrer (a entrevista foi feita com o austríaco já septuagenário), o médico explica que, apesar de o ser humano fazer tudo para viver, no fundo, o seu maior desejo é a morte, que classifica como um descanso da vida.
Esta é, de facto, uma visão interessante sobre a inevitabilidade do fim. O Segismundo (vou tratá-lo carinhosamente assim, de vez em quando) acredita, se tudo acaba, também ele irá acabar um dia. E, consequentemente, se vai acabar, não quer saber da glória póstuma que terá depois de morrer, pois o que mais lhe importa são os filhos e, passo a citar, "esta flor". Pessoalmente, também acredito que o ser humano deseja tanto a vida, como a morte; simplesmente, e dada a relutância à mudança que nos é inerente - basta pensar que sempre que a skin do Facebook muda, ninguém gosta, mas depois quando muda de novo, já todos gostavam da anterior -, acordamos de manhã para viver. O que é bom, como é óbvio!

Mais à frente, e depois de mostrar o seu rancor para com o regime nazi em vigor na época (Freud era judeu, e curiosamente, ou não, o seu entrevistador era apologista do nazismo), o diálogo entra na esfera das emoções humanas, como por exemplo a mesquinhez: para o psicanalista, o facto de o ser humano ser mesquinho deve-se a um conflito entre os seus instintos e as "normas" da sociedade, o que, por um lado, faz sentido na medida em que o confronto entre o eu e os outros está sempre presente na vida de qualquer pessoa. Freud tem ainda uma teoria curiosa sobre o facto de as pessoas darem o nome de antigos heróis aos seus animais de estimação: os animais não são mesquinhos, têm ações totalmente verdadeiras e "reais", sendo que, na história da raça humana, era o que se verificava no tempo de Aquiles e Édipo.

No fundo, apenas achei a entrevista interessante pela crueza com que Freud abordou todos os temas com os quais foi confrontado, incluindo uma pergunta sobre achar que o sexo é a principal motivação do ser humano. O austríaco acredita que sim, o que foi muito controverso na altura, pois o debate sobre a sexualidade, e ainda mais a infantil (tema muito focado pelo Segismundo), era quase um tabu na sociedade, se é que ainda não o é ainda hoje. Porém, a ideia aqui a reter não é tanto a do ato sexual em si, mas antes a do alcance do prazer. O que nos remete para a primeira frase que referi.

"A morte é o parceiro natural do amor", por um lado, faz ênfase à correlação entre estes dois conceitos (em vez de morte, talvez ódio seja o mais indicado), e por outro, são estas as duas finalidades que Freud vê para a vida. Queremos morrer para alcançar o descanso de viver, mas, enquanto vivemos, queremos amar para podermos morrer descansados.
Pedro Mendes

sábado, 23 de agosto de 2014

US Open 2014 - preview

Hey guys. As promised in the previous post, I'll write about my views on this year's United States Open. And because three of my five most viewed posts are written in English and I kind of feel like it, I'm going to write this one in Shakespear's language too.

First of all, I'm not betting on Nole to win this year - which I think I have done for every Grand Slam tournament since 2011 Australian Open. He hasn't played quite well in the US Open Series, and therefore I believe it will be Roger Federer who's gonna win his sixth in Flushing Meadows; the former world number one was runner-up in Toronto and winner in Cincinnati, which means he has reached, at least, the finals in his last four tornaments (winning in Halle and Cincinnati and losing in Wimbledon and Toronto).

Actually, I don't even believe in Serena for women's title. I know, she's Serena fucking Williams, she's the seventeen-times Grand Slam champion (as many as Fed), she's the winner of 2012 and 2013 and was also runner-up in 2011 (when she faced the best Samantha Stosur ever), but Serena is not being Serena in this year's Major tournaments. The world number one has only won six matches in Grand Slam events this season, which makes me believe that her "aura" is no longer there, like, players are not that afraid of facing her when entering the court.
Therefore, my bet goes to Simona Halep. The Romanian will be the second-seed and even though she's playing very well in Grand Slam tournaments this season (runner-up in Roland Garros, semi-finals in Wimbledon and quarter-finals in Melbourne), what makes me believe she'll be the one lifting the trophy is that Simona is not afraid at all of facing any single opponent. She's totally world's second best player of the moment, and I truly believe she already has what it gets to win a Grand Slam tournament.

There will be other points of interest in Flushing Meadows too, of course. For example, I'm curious for what Grigor Dimitrov and Kei Nishikori, both top10 seeded, will do in the last Major of the season. I also want to see how the Frenchmen will do, like Gäel Monfils (my darkhorse) and Rogers Cup winner Jo-Wilfried Tsonga, and even the former champ Lleyton Hewitt - which I honestly believe that will defeat Berdych in the very first round of the tournament.

On women's draw, I'm really looking forward to see how Ana's going to perform. Being the eight-seeded gave her quite an easy draw, and if she makes it to the quarters, she can perfectly defeat Serena, just like she did in Australian Open - the only problem is that Ana has never lost to Williams sisters in the first month of the year, but has also never defeated any of them in the remaining months... Let's also watch the former world number one and runner-up in the last two editions, the Belarrusian Victoria Azarenka. In my opinion, she could have defeated Serena in both 2012 and 2013, and therefore I'm expecting another big performance of her on the next two weeks, regardless her recent bad shape.

Finally, I really have to mention Portuguese number one, João Sousa. Our best tennis player ever will be the thirty-two seed, which his an historical achievement for Portuguese tennis! João faces Dancevic in the first round and can meet Goffin in the next one, so I believe he'll be able to, at least, repeat last year's third round. Vamos João!

Pedro Mendes

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Mundial 2014

A minha ideia era fazer um post sobre Wimbledon e o Mundial, mas dado que já lá vão dois meses desde o último - estar de férias é chato na medida em que posso fazer imensa coisa, mas acabo por fazer exatamente o mesmo que faço durante as aulas, apenas com a diferença de o fazer por mais tempo -, vou escrever apenas sobre o Mundial, e depois faço uma antevisão do US Open mais detalhada. Afinal, temos que poupar árvores (virtuais), logo papel (virtual).

Apesar de ter sido apenas o terceiro que vi em tempo real, penso que esta é a melhor edição de que me lembro do Campeonato do Mundo FIFA. Grandes jogos, grandes surpresas, grandes golos, e um vencedor que mereceu por completo esta vitória e que me deixou relativamente satisfeito.
Mas já que já falei na Alemanha, é impossível falar do seu percurso no Mundial sem mencionar a nossa seleção. Honestamente, a minha seleção preferida sempre foi a Holanda, e em Mundiais acho que torço mais por eles que por nós - em Europeus já não, mas qualquer pessoa que perceba de futebol consegue ver que a Laranja é a seleção que mais merece um título de campeã mundial. Começámos logo a levar quatro dos alemães, mas esse nem foi o principal problema, na minha opinião: era de esperar uma derrota frente a uma seleção mais forte que a nossa (e que todas as outras, afinal). O que fodeu tudo foi, claro está, termos empatado contra os Estados Unidos. Voltámos a não jogar nada, o Ronaldo voltou a mudar o penteado, o Bento voltou a pôr o Veloso em vez do William, e pronto, deu merda.
Há muitas desculpas que se podem arranjar para esta nossa prestação desastrosa, mas acima de tudo, perdemos porque somos uma seleção de um homem só (porque queremos, pois temos pelo menos mais dois jogadores que eram titulares em qualquer clube do mundo), porque temos um treinador que aposta sempre nos mesmos jogadores (se bem que aí, o problema da não-renovação já vem de trás), e porque achamos sempre que somos candidatos a ganhar alguma coisa só porque, lá está, temos o melhor jogador do Mundo. Para mim, até ganharmos sequer alguma coisa (dado que nem um Campeonato da Europa temos), somos tão candidatos como, por exemplo, a Bélgica. E de certeza que eles são mais humildes que nós.

Quanto às outras equipas, houve muitas surpresas conforme já referi. No Grupo A, pouco a relatar sem ser a prestação um pouco desapontante da Croácia. No Grupo B, a Espanha foi finalmente de vela. Torci por eles no Euro 2008, mas desde que fizeram com que a Holanda voltasse a perder a final de um Mundial que fiquei farto do tiki-taka. No Grupo C, a Inglaterra floppou, como sempre (esses ainda são piores que nós, pois nós "só" nos achamos tão bons como os outros, eles acham que são mesmo os maiores), a Itália subestimou os adversários depois do primeiro jogo (adoro ver o Pirlo jogar, mas por não ser humilde perdeu a meia-final da Liga Europa contra nós e nem chegou a Julho no Mundial), e a Costa Rica fez o brilharete de ganhar este grupo com três campeões mundiais, e acabou por só perder nos penalties nos quartos-de-final! No Grupo D, a Grécia passou borrada e a Costa do Martim floppou (para não variar), e gostei bastante de ver o Japão jogar, mas não tinham grande equipa.
Depois, no Grupo E, a França passou em primeiro sem grande surpresa (e quase fazendo toda a gente se esquecer que só não ficaram no Grupo C porque o Platini lhes fez o jeito de evitar que não ficassem no pote europeu, o que acabou por dar resultado). No Grupo F, gostei de ver a Nigéria a passar mas tive pena pela Bósnia; com uma equipa mais experiente, teriam dado muito mas luta aos argentinos, que iam empatando contra a equipa do Carlos Queiroz (acho que por aqui dá para ver o nível que a Argentina apresentou na fase de grupos). Quanto ao Grupo G, o nosso, não há muito a acrescentar - a não ser mencionar que os norte-americanos pareciam mesmo interessar-se e perceber de futebol durante esta fase da competição -, e o Grupo H contou com uma Rússia extremamente desapontante e uma Argélia histórica, além de uma Bélgica que não convenceu especialmente.

E se a fase de grupos foi cheia de surpresas na maioria dos grupos, já a fase a eliminar foi muito mais previsível. Antes de mais, este foi o primeiro Mundial onde os quarto-finalistas foram, sem tirar nem pôr, os vencedores dos oito grupos; é certo, que com exceção da Colômbia, não se pode dizer que as outras seleções tenham ganho categoricamente os seus encontros dos "oitavos", mas acabaram por o fazer, e no futebol é isso que conta.
Já nesta fase se previam umas meias-finais Brasil - Alemanha e Argentina - Holanda, e foi mesmo isso que aconteceu. E foi aqui que se deu o cataclismo! Depois do Maracanazo, eis o Mineirazo! O choque! A humilhação! A vergonha! Okay, e chega de ser parvo.
Não vale a pena dizer muito mais sobre isto, já foram feitas todas as piadas possíveis e imaginárias e já foram dadas muitas explicações. Para mim, esta derrota do Brasil deve-se, antes de mais, ao excesso de confiança que havia antes do Mundial. Tudo bem, organizam em casa, são o país do futebol, mas este não é o Brasil cujo quarteto ofensivo chegou a ser algo do género Kaká-Ronaldinho-Ronaldo-Adriano... Com Fred e Jô como pontas-de-lança (para não falar também no Hulk, que acho ser um jogador fenomenal mas que na seleção não joga nada), e deixando de fora os dois primeiros desses quatro de que falei, há que refrear as expetativas desde o início. Além de que, conforme muitos especialistas disseram, o Brasil esteve até este ano a pensar que estava avançado em termos futebolísticos, mas vê-se agora que está, sim, atrasado. E estas coisas demoram tempo, como demorou para a Alemanha.

A final foi, assim, o sempre clássico Alemanha vs Argentina. Foi o primeiro jogo do Mundial em que estive a torcer pelos alemães (apesar de, pelo Enzo, e também de certo modo pelo Rojo e pelo Messi, ficasse feliz caso fosse a Argentina a ganhar), e penso que foi uma vitória justa. É o culminar de um projeto que começou no início deste milénio, e que deve servir como exemplo para qualquer país. Já a Holanda acabou por perder para os argentinos nas meias-finais, mas o facto de ter ganho depois o jogo do 3º/4º lugar já foi histórico na medida em que esta foi, assim, a primeira edição do Mundial em que os holandeses não perderam nenhum jogo. Espero que este seja o "clique" para o "nosso" tão desejado título mundial!

Para terminar, os prémios. Antes de mais, não percebo o choque mundial por Lionel Messi ter ganho o prémio de Melhor Jogador do Mundial 2014. Se eu lho teria dado? Não, pessoalmente acho que ficaria melhor entregue nas mãos de Arjen Robben, Toni Kroos, Javier Mascherano ou até mesmo Manuel Neuer - que, sem grande surpresa, ganhou o prémio para melhor guarda-redes. Agora, o Messi foi Homem do Jogo em quatro jogos. É verdade que não marcou nenhum golo depois da fase de grupos, mas foi o jogador que mais oportunidades criou neste Mundial. Deixemo-nos deste patriotismo estúpido de lamber o cu ao Ronaldo e "odiar" o argentino, pois, volto a dizê-lo, eles nem sequer são rivais. Para mim, quem acha que o Messi é um jogador "banal", que só joga bem no Barcelona (se calhar Pelé, Charlton, Beckenbauer, Gerrard, Totti, Raúl também são banais, dado que jogaram sempre no mesmo clube), não percebe nada de bola, simplesmente. Estamos a falar de um jogador que, mesmo sem um título de campeão do mundo (de seleções, por clubes já foi três vezes), tem quatro Bolas de Ouro e três Ligas dos Campeões. Acho que é alguma coisa. E é verdade que ele acaba por não aparecer na equipa ideal do Mundial, mas não me parece que, por exemplo, o Óscar mereça estar lá mais do que La Pulga.

Um bem-haja,
Pedro Mendes

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Não chega já, senhor Guttman?


"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better." Esta frase, celebrizada pelo escritor irlandês e Prémio Nobel da Literatura Samuel Beckett, está também escrita na pele do tenista suíço Stanislas Wawrinka. 
"Stan", de vinte e nove anos, passou quase toda a sua carreira "na sombra" do seu compatriota Roger Federer, recordista de vitórias em torneios do Grand Slam e ainda de semanas como líder do ranking mundial; porém, no último ano e meio, o atual número três mundial elevou o seu nível de ténis para algo nunca antes visto - muitos dizem que o "clique" foi a sua vitória na temporada passada aqui no nosso Portugal Open - e, este ano, já venceu o Open da Austrália após derrotar pelo caminho Novak Djokovic e Rafael Nadal, e ainda o torneio de Monte Carlo, sendo nesta altura o tenista que mais pontos fez em 2014.

Mas, perguntam vocês, o que é que isto tem a ver com o Benfica? Eu explico.
Para ganhar em Melbourne o primeiro Major da temporada, o Wawrinka, conforme já referi, teve de derrotar nos quartos-de-final o tricampeão em título e meu tenista preferido, Novak Djokovic. Esta vitória teve um grande significado pois, além de lhe ter dado a chegada às meias-finais do torneio, foi alcançada após na época de 2013 o suíço ter estado muito perto de derrotar o sérvio em dois torneios do Grand Slam (também no Open da Austrália, e ainda no US Open).
E, no fundo, é disto que é feito o desporto. Uma vez ganham uns, outra vez ganham outros, mas por norma, ganha quem mais se esforça por merecer ganhar. Parece simples, não é?

Sim. Mas não é isto que se tem passado com o Benfica em competições europeias. Eu estudo ciências, ainda para mais a área da Física, onde, aparte das teorias modernas como a dualidade onda-partícula - quanto à qual, honestamente, acredito ser "apenas" uma teoria intermédia -, as coisas ou são, ou não são, e uma maldição é algo muito pouco racional para eu acreditar.
Porém, já começa a ser "demais". Já lá vão oito finais consecutivas perdidas. Tudo bem, na década de 60, ganhámos as primeiras duas e perdemos as outras três... Conforme disse, uns ganham outros perdem. E tudo bem, na década de 80, perdemos as três a que chegámos, mas também não fomos favoritos em nenhuma delas. E tudo bem, na temporada passada defrontámos uma das equipa mais ricas da Europa, e a equipa era inexperiente nesse tipo de jogos... Agora, este ano caralho?! Indo à final da mesma competição pelo segundo ano consecutivo, e a jogar outra vez um grande futebol? O que é que falta, afinal?

Não consigo mesmo perceber. Antes de mais, não concordo nem um bocadinho com quem volta a dizer, este ano, que está orgulhoso da equipa. Não há desculpas para a atitude de ontem, que foi exatamente igual à do ano passado; jogar a medo, e sem fazer a mais pequena ideia do que fazer com a bola no último terço. E, a sério, não venham com desculpas da arbitragem, pois o jogo acabou por ir a penalties e aí falhámos metade. E não digam que faltava lá o Enzo Pérez ou o Lazar Markovic, pois nenhum deles teria agarrado nos pés do Gaitán ou do Rodrigo - que, mantenho, jogam ZERO em jogos decisivos - para os obrigar a pôr a bola na baliza. O que falta é mesmo outro tipo de mentalidade neste tipo de encontros, e é por isso que, apesar de isto agora ser fácil de dizer e poder soar a hipocrisia, o Jorge Jesus já esgotou o seu crédito no Benfica... Percebi ontem que ele não perdeu esta segunda final por ter voltado a errar, mas sim por ser mesmo uma limitação inerente à sua pessoa. Reconheço-lhe todo o mérito e mais algum por ter posto a equipa a jogar de novo bom futebol este ano - era muito fácil termos caído numa espiral negativa -, mas ele pôs o Benfica num patamar demasiado alto para ele. E é mesmo por isso que acho que deve sair.

Por outro lado, lá está, as oito finais que o Benfica já perdeu não tiveram todas o Jorge Jesus como treinador. E este ano até já havíamos perdido outra, a da Liga dos Campeões sub-19, e curiosamente também contra uma equipa espanhola. É irracional acreditar nesta maldição de merda, mas é também, ao mesmo tempo, perto de inevitável. E é por isso que não irei voltar a ver o Benfica a disputar uma final europeia. Não aguento outra. E se for para a ganhar, não me importo que eu não veja o jogo. Eu só quero o Benfica campeão.
E, quanto a isto, estou orgulhoso sim. Estou orgulhoso por estar triste por o meu clube, campeão nacional há quase um mês, vencedor da Taça da Liga e finalista da Taça de Portugal, ter chegado a duas finais europeias consecutivamente e ter perdido uma delas no desempate por grandes penalidades, sendo que na competição desta temporada ninguém o conseguiu derrotar, sequer, em duas horas de jogo. Isto é o Benfica, e quer eu queria quer não, irei sempre torcer por este clube.

Pedro Mendes

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Karma

Acredito no karma, e naquilo a que os ingleses chamam jinxing, mais do que devia (e até mesmo mais do que queria). É claro que é algo completamente irracional, e por norma costumo seguir a razão para quase tudo, mas neste caso dou por mim a controlar as minhas expetativas e a falar antes do tempo muitas vezes mesmo.

E é por isso que esta temporada do Benfica me está a saber tão bem. Claro, mais uma vez, estas duas finais contra o Rio Ave ainda estão longe de estarem ganhas (no jinxing), e eles já estão a preparar esses jogos e nós ainda não... Mas, após o final da temporada passada onde fomos gozados por toda a gente - sendo que, quase nenhum clube na Europa fez uma temporada tão boa como a nossa, apesar de tudo -, este ano, se há clube que merece, somos nós.

E além disto que já alcançámos, se tudo correr bem, estaremos em Turim duas vezes em Maio. Afinal somos equipa do Pote 1 da UEFA, temos uma experiência muito grande na Liga Europa e partimos em vantagem para a segunda-mão, além de notar na Juventus o mesmo excesso de confiança que talvez os tenha feito perder o jogo aqui na Luz, o que aliado ao facto de ainda não serem campeões os pode fazer facilitar mais do que quereriam, e/ou até mesmo acusar a pressão do momento. Mas isto também pode muito bem não acontecer, pois eles são uma das melhores equipas da Europa, têm em Andrea Pirlo e Gianluigi Buffon dois dos melhores jogadores do século da squadra azzurra e, juntamente com o primeiro, Arturo Vidal e Paul Pogba formam um trio de centro-campistas de muito respeito (apesar de o chileno ainda estar em dúvida). No fundo, o jogo de quinta-feira será um teste: para mostrar que conseguimos vencer a final, temos de passar primeiro pelo "ensaio geral".

Voltando a isto do karma, talvez seja por isso mesmo que esta temporada está a correr tão mal ao Porto. No final da temporada passada, mais uma onde foram campeões muito por demérito do Benfica, até fizeram um espaço no seu novo museu dedicado ao famoso golo do Kelvin (que não foi mesmo aos 92 minutos, só que já se sabe que uma mentira, dita muitas vezes, torna-se verdade) e criaram músicas apenas a gozar com o Benfica, ou seja, músicas típicas da sua mentalidade regional... E é por isso mesmo que este ano merecem levar com isto tudo.
Mas, uma vez mais, não entremos em euforias de "o Pinto da Costa já acabou" ou "agora será 5 anos seguidos para nós". Não. Só ganhámos ainda este ano, não nos outros. O Pinto da Costa ainda lá está, e no Porto a mentalidade deles (infelizmente) é de vencedores. Temos hipóteses de recuperar a hegemonia do futebol nacional, mas teremos de voltar em força no próximo ano, pois o Porto também o fará, e voltarão a ser um osso muito duro de roer.

Por último, ainda uns parágrafos sobre os meus outros "dois amores": o Liverpool e o Chaves.
Em Anfield Road, assistiu-se hoje à prova do quão cruel pode ser o futebol. O capitão Steven Gerrard, provavelmente o jogador do mundo que mais merece ganhar uma Premier League (sim, eu sei que posso estar a exagerar, mas é o que eu acho), escorregou e deu o primeiro golo ao Chelsea, que depois, mais uma vez esta temporada, se limitou a jogar um futebol podre e nojento com o único intuito de defender o resultado. Pessoalmente sempre fui fã do Mourinho e sempre o apoiei (principalmente no Inter e no Real, dois dos meus clubes favoritos), mas nesta sua segunda passagem pelo Chelsea, desejo sinceramente que ele perca tudo. Estou farto dos seus discursos de hipócrita e do seu futebol de merda. E se tudo correr bem, irá mesmo perder tudo e o Liverpool será na mesma campeão - afinal ainda estamos em primeiro, e acredito que se ganharmos os próximos dois jogos, o City poderá perfeitamente não ganhar o jogo em atraso.

Já quanto ao Chaves, tem sido um final de temporada de sonho! A subida nunca foi o objetivo inicial, mas agora com a liguilha a apenas dois pontos, pode perfeitamente ser assumido! A vitória de hoje em Penafiel só confirmou esse bom momento, o que leva o jogo no Municipal Branco Teixeira contra o Portimonense a ser, na minha opinião, decisivo para a ida ao play-off. Força Valentes Transmontanos!

domingo, 20 de abril de 2014

Trigésimo terceiro

Custou. Custou ter perdido tudo em Maio do ano passado. Custou tanto que, se em Agosto já poucas esperanças tinha de o Benfica ser campeão, com menos ainda fiquei quando o Porto do Paulo Fonseca abriu uma vantagem de cinco pontos sobre nós... Afinal, qual é o clube que desperdiça uma mão cheia de pontos quando na liderança, sem ser o Benfica?!

Mas parece que me enganei. E ainda bem, pois se é para estar errado, que seja neste tipo de coisas. Apesar de ter sido contra a permanência do Jesus no Benfica para esta temporada (e ainda sou, pois acho que se chegou a um ponto onde o Benfica está demasiado grande para ele, com todo o respeito), o Vieira fez bem em não o ter despedido a meio, e o JJ esteve muito, mas mesmo muito bem, em aguentar a equipa quando esta tinha tudo para entrar numa série de jogos sem vencer. E agora, dia 20 de Abril, Domingo de Páscoa, - e fazendo o trocadilho mais cliché da última semana -, Jesus ressuscitou!

Uma das coisas que disse nesse fatídico mês de Maio do ano de Nosso Senhor de 2013, foi que tínhamos perdido uma grande oportunidade de fazer um "triplete". Afinal tínhamos chegado à final de todas as competições e tínhamos passado 2/3 do campeonato em primeiro! Sim, muita gente o fez e eu próprio também dei o exemplo do Bayern do Jupp Heynckes - que estava prestes a ganhar tudo, após no ano anterior também ter perdido tudo -, mas no fundo, não acreditava muito nisso.
Só que o Benfica deste ano (falo a partir de Dezembro, pois antes disso era uma equipa cheia de fantasmas da temporada anterior) é outro Benfica. É um Benfica que não só ataca bem, como também defende bem; e atenção ao advérbio aqui, que é importante.

O Benfica de Jorge Jesus sempre foi conhecido pela nota artística, pelo rolo compressor, pelas inúmeras goleadas que alcançava ao longo das temporadas. Só que esse mesmo Benfica, também era o Benfica que, em 2010-2011, acabou a temporada numa série de cerca de três meses (agora não sei bem) a sofrer sempre golos. E o Benfica que na temporada passada, naqueles três jogos decisivos que perdeu, sofreu dois golos em cada um... Sofrer dois golos está muito longe de ser uma goleada, mas quando só se marca um, é de facto um aspeto negativo.

Este ano, se calhar o melhor que nos aconteceu foi a lesão do Artur. Não é por acaso que lhe chamamos Rei Artur, mas desde o final da temporada passada que ele se mostrava bastante inconstante nos momentos decisivos. Já era altura de ele ceder o lugar a outro, e desde 2010 que tínhamos nos quadros este jovem guarda-redes esloveno que, no momento em que substitui o Artur no jogo da primeira volta contra o Olhanense, a minha timeline no Twitter parecia que já o conhecia há tempo suficiente para confiar nele - e, no fundo, faz sentido, dado a boa temporada passada que ele fez no Rio Ave. Acho que o Oblak tem tudo para ser um grande guarda-redes, e o facto de só ter sofrido três golos para a Liga desde que é se estreou (e zero na Luz!) faz dele, para mim, o titular indiscutível neste momento.

Agora, ainda há mais três competições em disputa. Esta é a vantagem de ter assegurado o título o mais rapidamente possível (eu teria preferido logo ontem, ao contrário de alguns benfiquistas que quase celebraram o golo do Adrien), pois vai-nos permitir ir com tudo para cima da Juventus esta quinta-feira. Espero que passemos, pois gostava de "corrigir" a derrota na final do ano passado, mas honestamente prefiro a "dobradinha"; há dez anos que não ganhamos no Jamor, e já fomos a duas finais entretanto, pelo que o quarto da centena de Taças de Portugal tem de ser alcançado este ano! E depois ainda há a meia-final da Taça da Liga, para qual  honestamente me estou a cagar, mas claro que, se possível, gostava sempre de ganhar. Num ano em que temos sido claramente melhores que o Porto (e desta vez, também no confronto direto), temos de aproveitar isso e, acima de tudo, construir em cima disso e não deitar abaixo esta oportunidade de recuperar a hegemonia do futebol português!

Houve festejos por todo o país. E tenho a certeza que em países como Canadá, França, Suíça, Angola, Moçambique e muitos outros, também houve muita gente nas ruas. Isto é o Benfica! Com este título, tornamo-nos (de novo) no clube das oito principais ligas europeias com mais títulos nacionais internos. A UEFA recentemente divulgou um estudo onde mostra que o Benfica é o clube da Europa com mais adeptos no próprio país. Estamos no guiness por sermos o clube com mais sócios do mundo. Quando é para criticar, eu sou o primeiro a criticar o Benfica, pois acho que só olhando imparcialmente para o nosso clube é que conseguimos ver o que está mal e conseguimos evoluir... Mas quanto à nossa grandeza, nada a dizer. E este título é dedicado ao Pantera Negra e ao Monstro Sagrado. Para sempre.

Pedro Mendes

quinta-feira, 27 de março de 2014

Benfica e o fantasma da época passada


Há cerca de nove meses, mais concretamente a 25 de Maio de 2013, saía eu com o meu irmão do estádio do Jamor, onde nunca havia ido, e após ver o Benfica a alinhar a sua pior exibição da temporada no último jogo da mesma. Quase que chorei no jogo do Dragão, quando o Kelvin marcou aos 90+3 (sim, porque é muito bonito falar no minuto 92, mas isso é uma mentira que por ser repetida muitas vezes se tornou "verdade"), e no jogo contra o Moreirense, após termos perdido em Amesterdão a final da Liga Europa, estive lá a gritar pela equipa e a apoiá-los, consciente de que, apesar de a sorte também se procurar, não perdemos o campeonato e a Liga Europa por falta de esforço dos jogadores.

Porém, no Jamor, foi diferente. Os jogadores tinham obrigação de dar tudo, era o nosso prestígio que estava em causa e na final de uma prova onde até há poucos anos tínhamos tantos troféus como o Porto e o Sporting juntos. Mas não foi isso que se passou. Tivemos o jogo na mão até cerca de um quarto de hora do final, quando o Vitória marcou de rajada dois golos e aproveitou finalmente a nossa displicência gritante após termos feito cedo o 1-0. Aliado ao desentendimento entre o Cardozo e o Jesus e ainda à falta de fair-play da equipa durante a entrega da Taça, essa foi, para mim, a gota de água; saí de lá a gritar "vocês são uma vergonha" com muitos outros adeptos. Já no metro em Lisboa, a vir para casa, conheci um adepto de Vila Real (de onde até sou natural, apesar de me considerar flaviense) que ainda ia mais desolado que eu, pois tinha ido ao Dragão, a Amesterdão e agora ao Jamor e tudo para estar perto de perder o autocarro para voltar para Trás-os-Montes nesse dia - espero que o tenha apanhado.

Jurei a mim mesmo que este ano não iria sequer ver na televisão um jogo do Benfica para o campeonato (para a Liga dos Campeões cheguei a ir ao estádio, pois é uma competição totalmente diferente e gosto de ir à Luz mais para ver clubes que não vejo todos os fins-de-semana). Até ao jogo com o Porto na Luz, não tinha vontade nenhuma de ver o Benfica e quando ficámos a cinco pontos da liderança já dava o campeonato por perdido... Porém, e como isto é futebol, onde tudo pode mudar de um momento para o outro, mudou mesmo: estamos com 12 pontos de avanço sobre o Porto e 7 sobre o Sporting, e ainda temos hipótese de ganhar todas as competições. Além dos jogos da Liga Europa - competição que acho que não é para nós, preferia muito mais chegar aos oitavos-de-final da Champions -, tenho visto jogos do campeonato recentemente e estou relativamente confiante para este final de temporada.

No entanto, e conhecendo o JJ, o jogo de ontem deixou-me preocupado. Não pela derrota, pois nós não somos invencíveis e ainda vamos perder ou empatar mais jogos até final do ano - e é preferível perder agora, que perder todos em Maio como aconteceu na temporada passada... O que me irritou foi o discurso do Jesus ontem. Eu não o culpo pela derrota, pois de certeza que Salvio, Sulejmani e Cardozo não recebem assim tão pouco para darem uma para a caixa como se passou ontem, mas o homem tem de reconhecer quando joga mal, e ontem foi o que se passou! É que agora que tipo de discurso é que ele terá com a equipa? "Jogámos bem mas tivemos azar, na Luz damos a volta a isto"? Este tipo de discursos são perigosíssimos, e uma equipa com o Benfica tem de dar o máximo em todos os jogos, seja com a equipa A ou a B, e não pode nunca ficar satisfeita com uma derrota, ainda para mais com o Porto!

Mantenho a minha opinião de que o Jorge Jesus não tem postura para treinar o Benfica (além de ganhar muito para quem só tem quatro troféus, sendo três deles Taças da Liga), e que o seu tempo já acabou, mas de igual modo sempre defendi que, uma vez que começou a temporada, deve ir até ao fim e ainda bem que continuou. É nossa obrigação reagir já no domingo em Braga e continuar a apoiar a equipa e o treinador até final da temporada - e SÓ aí festejar. Carrega Benfica!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Mandela e Eusébio

Tenho estado bastante afastado do Uspeti nos últimos meses por causa da faculdade e apesar de ainda estar em exames, hoje apetece-me escrever de novo alguma coisa e vou falar de uns temas dos quais ainda não falei.

No passado dia 5 de Dezembro morreu um dos pilares do que é a África do Sul hoje em dia, e provavelmente um dos maiores homens do século XXI: Nelson Mandela, carinhosamente chamado de Madiba (o nome da sua tribo, da qual seria "rei" se não tivesse enveredado pela carreira política).
Nasci no ano em que Mandela chegou à presidência. Logicamente, as memórias que tenho de ouvir falar nele são sempre posteriores a 2004, ano em que o primeiro presidente negro da África do Sul anunciou a sua aposentadoria de todas as questões políticas e passou a apenas raramente aparecer em público. Porém, quando saiu o Invictus - filme com Morgan Freeman no papel principal que retrata o papel de Mandela na vitória da seleção de râguebi sul-africana no mundial de África do Sul'94 -, a minha admiração por este homem cresceu imenso, e mais ainda depois de saber que ele morreu e ter passado horas a ler sobre a sua vida. É certo que, quando alguém morre, a tendência é para se sobrevalorizar a sua obra, mas por outro lado também é nestas alturas que surgem críticas ao seu trabalho pouco conhecidas anteriormente por parte do público... No entanto, juntando "isto" tudo, um homem que foi capaz de, ao fim de quase três décadas encarcerado, perdoar os responsáveis pelo seu aprisionamento - facto muito retratado em Invictus, onde ao contrário do que se esperava o Madiba não despede ou manda prender os membros do anterior governo, convidando-os antes a juntarem-se a si - e ainda ter a presença de espírito necessária para apenas estar um mandato no poder, mesmo sabendo que, caso assim o quisesse, o povo iria sempre votar nele, só pode merecer a nossa homenagem e o nosso respeito. Descansa em paz Madiba!

Um mês depois, e talvez cumprindo uma "profecia" que circulou no Facebook - uma rapariga, extremamente desolada com a morte de Mandela, postou uma foto a dizer "RIP Mandela" com a foto de Eusébio -, o Pantera Negra também deu por terminado o seu trabalho na terra. Foi também uma pessoa cujas memórias que tenho são já de ser uma lenda viva do meu clube e do meu país, uma vez que o que conheço da sua carreira futebolística, ou li, ou vi em vídeos no Youtube ou agora recentemente na televisão (onde estava a ver que íamos perder com a Coreia do Norte!). Penso que Eusébio da Silva Ferreira é, e sempre será, o maior expoente do futebol em Portugal. Alguém que ganha a Taça dos Clubes Campeões Europeus derrotando na final a maior potência mundial da altura (e ainda vai a mais três finais da competição), torna-se no primeiro jogador português a ganhar a Bola de Ouro, leva a sua seleção ao terceiro lugar do Mundial de 1966 (onde é o melhor marcador e o segundo melhor jogador da competição), conquista o campeonato português em onze ocasiões (tendo sido melhor marcador por cinco vezes consecutivas, se a memória não me falha) e é elogiado e admirado por muitos dos melhores jogadores de sempre, é homenageado pelos adeptos rivais na hora da sua morte, é certamente um exemplo para qualquer pessoa que se queira tornar futebolista. O meu obrigado, Rei, por tudo.