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domingo, 23 de agosto de 2015

O "quase"

Sempre fui muito exigente com os meus ídolos no desporto, tal como tento ser comigo mesmo na minha vida. É uma maneira de torcer por clubes, ou só atletas, que às vezes me faz parecer que não sou adepto - um benfiquista já me respondeu a um comentário com "o teu clube é que deve ser bom", numa notícia em que criticava o então treinador do Benfica Jorge Jesus -, mas ser adepto, para mim, é detetar o que está mal para poder corrigir e festejar no final, em vez de vangloriar o que está bem e depois, afinal, não estar assim tão bem.

Talvez seja por isso que acho que tenho uma tendência para torcer por clubes do "quase". Antes de mais, sou português, e cingindo-nos ao futebol, se há seleção que está sempre quase a ganhar seja o que for somos nós - os holandeses também já foram quase campeões mundiais por três vezes e, curiosamente, ou talvez nem tanto, são a seleção que torço para a vitória nas grandes competições.

Depois, ainda no futebol, simpatizo com o Real Madrid em Espanha, que talvez seja o único dos "meus" clubes que de facto sempre foi e sempre será um dos melhores do mundo. Em Itália, o Inter, que sempre foi o terceiro clube e até nem costuma falhar nos momentos decisivos, talvez por não ter assim tantos comparado com o AC Milan ou a Juventus - se bem que podiam pelo menos ter sido campeões italianos quando o Ronaldo, esse sim o meu jogador preferido de sempre, lá esteve. É que o Fenómeno teve uma carreira estrondosa, mas campeonatos nacionais são poucos, e Ligas dos Campeões, o máximo que fez foi fazer parte da equipa do Milan vencedora em 2007... mas ele chegou em Janeiro, já não pode ser inscrito.

Chegamos, finalmente, aos três clubes pelos quais não apenas simpatizo mas posso-me considerar adepto: o Chaves, o Benfica e o Liverpool. O primeiro, admito, é unicamente por ser flaviense, mas os de vermelho fui descobrindo com o passar dos anos que não consigo evitar não torcer por eles. Para meu mal, às vezes.

Acima de tudo, não há uma temporada em que estes três tenham sucesso, ou sequer dois deles. O Benfica é bicampeão, mas, em 13/14, se o Liverpool esteve quase a ser campeão - e voltou a não ser, com (não) tem sido desde 1990 -, o Chaves esteve perto de ir ao play-off de subida. Tudo bem, ao menos voltámos a ganhar a liga e o Chaves tinha acabado de subir desde a antiga II B, mas esse era finalmente o ano do Gerrard! Custou, mas enfim, o próprio diz que mesmo sem a Premier League considera a sua carreira perfeita e eu acredito.

Na temporada passada, bem, com a saída do Suárez, nunca esperei muito dos de Merseyside e eles encarregaram-se de me acabar com as expetativas de uma temporada igual à anterior logo nos primeiros meses - se bem que houve ainda, claro está, a quase passagem da fase de grupos da Liga dos Campeões, que teria sido alcançada com mais um golo no último jogo frente ao Basel. Entretanto, o Benfica fez o bi, numa temporada onde o Porto era claramente a melhor equipa, e preferi termos ficado em último no grupo da Champions que ter perdido outra final da Liga Europa - Benfica, o campeão dos quase vencedores de competições europeias com outro treinador que não Béla Guttman.

Mas o Chaves?! Estivemos em primeiro, em segundo, em primeiro outra vez, e de facto podíamos (e devíamos) ter assegurado a subida antes da última jornada, mas éramos campeões da II Liga aos 90+2... E aos 90+3, com um golo do Tondela frente ao Freamunde, caíamos para terceiro e esvaía-se o sonho de voltarmos à primeira divisão. A cidade beirã de Tondela que está (ou já esteve, não sei) na minha vida por boas razões mas que parece ter sempre o potencial de, eventualmente, me deixar arrasado.

Aliás, pensando bem, de facto em 2004/05 fomos campeões e o Liverpool venceu a final da Liga dos Campeões mais emocionante que me recordo. Não foi a Premier, mas tenho a certeza que nenhum dos jogadores dessa altura trocava a "orelhuda" por nada.

No ténis, um desporto que, ao contrário do futebol, tenho genuína pena de ter tanto talento para o praticar como um tijolo, claro que só podia torcer pelo Novak Djokovic, o gajo mais bacano, mais descontraído, benfiquista (!) mas que, uma vez mais, voltou a estar quase nesta temporada.

Atenção, não quero ser mal-interpretado! O que o Nole já fez desde 2011 (principalmente) faz dele o quarto tenista com mais torneios do Grand Slam da história, sendo, ainda, o único que já ganhou oito dos nove eventos da categoria Masters 1000... Porém, continua a faltar o nono, além de Roland Garros! O sérvio está a fazer uma época espetacular, quase tão boa como a de 2011, mas, à semelhança desse ano, continua a faltar elevar a Taça dos Mosqueteiros e o troféu de campeão de Cincinnati... E se nesse ano ele (ainda) só tinha 24 anos e não estava habituado a ganhar com tanta regularidade, este ano, aos vinte e oito, era o ano perfeito de conquistar os Career Slam e Masters 1000.

Porém, hoje foi a quinta final perdida no Ohio, a que se juntou a terceira em Paris há cerca de dois meses e meio. Ambas contra dois suíços, um deles o único e inigualável Roger Federer, mas que o Nole, ao seu melhor, derrota em qualquer piso e em qualquer altura do ano na sua forma atual... Menos, lá está, nesses dois "malditos" locais.

No caso do sérvio, ainda há o terceiro Major do ano para conquistar no próximo mês (que, pelo menos para mim, saberá sempre pior do que saberia Roland Garros ou Cincy). O Chaves - apesar de, a meu ver, talvez com demasiada euforia neste início de época -, e o Liverpool parecem melhores este ano e, no caso dos Valentes Trasmontanos, conto que seja este o ano do regresso ao convívio com grandes. Já o Benfica, com a derrota de hoje frente ao Arouca - de novo a "quase" aproveitarmos deslizes dos rivais -, não prevejo mais que um terceiro lugar no campeonato. Mas enfim, não se pode ganhar sempre.

Pedro Mendes