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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Entrevista a Freud

Ontem, um colega meu emprestou-me numa aula um livro de uma série do Expresso sobre grandes entrevistas da História, e se eu já estava com pouca atenção ao Teorema da Amostragem, com menos ainda fiquei. Comecei a ver quais os nomes dos entrevistados e, apesar de também me ter interessado por saber o que Benito Mussolini ou Júlio Verne disseram, foi a última de todas, ao famoso psicanalista austríaco Sigmund Freud, que fui de imediato ler.

As teorias de Freud, e de, antes dele, Nietzsche, sempre me despertaram interesse. Sempre tentei conhecer o máximo que consigo no meu dia-a-dia, e tenho um especial fascínio por áreas como a psicanálise, a psicologia, a psiquiatria, que, no fundo, debatem e tentar interpretar a mente humana, que é provavelmente o mais complexo que pode existir no Universo - só suplantada, claro, no caso específico da mente humana feminina. Não segui essa área de estudos, pois sempre me vi numa área mais "exatamente científica" (... ou jornalismo, ainda não sei bem), mas a cada ano que passa estou cada mais inclinado em me virar para a neurociência no meu mestrado. No fundo, quero estudar o que me faz querer estudar o que quero estudar.

Ora bem, o primeiro tema da conversa é sobre a morte. Freud refere que "a morte é o parceiro natural do amor" e, quando confrontado com perguntas sobre se tinha medo de morrer (a entrevista foi feita com o austríaco já septuagenário), o médico explica que, apesar de o ser humano fazer tudo para viver, no fundo, o seu maior desejo é a morte, que classifica como um descanso da vida.
Esta é, de facto, uma visão interessante sobre a inevitabilidade do fim. O Segismundo (vou tratá-lo carinhosamente assim, de vez em quando) acredita, se tudo acaba, também ele irá acabar um dia. E, consequentemente, se vai acabar, não quer saber da glória póstuma que terá depois de morrer, pois o que mais lhe importa são os filhos e, passo a citar, "esta flor". Pessoalmente, também acredito que o ser humano deseja tanto a vida, como a morte; simplesmente, e dada a relutância à mudança que nos é inerente - basta pensar que sempre que a skin do Facebook muda, ninguém gosta, mas depois quando muda de novo, já todos gostavam da anterior -, acordamos de manhã para viver. O que é bom, como é óbvio!

Mais à frente, e depois de mostrar o seu rancor para com o regime nazi em vigor na época (Freud era judeu, e curiosamente, ou não, o seu entrevistador era apologista do nazismo), o diálogo entra na esfera das emoções humanas, como por exemplo a mesquinhez: para o psicanalista, o facto de o ser humano ser mesquinho deve-se a um conflito entre os seus instintos e as "normas" da sociedade, o que, por um lado, faz sentido na medida em que o confronto entre o eu e os outros está sempre presente na vida de qualquer pessoa. Freud tem ainda uma teoria curiosa sobre o facto de as pessoas darem o nome de antigos heróis aos seus animais de estimação: os animais não são mesquinhos, têm ações totalmente verdadeiras e "reais", sendo que, na história da raça humana, era o que se verificava no tempo de Aquiles e Édipo.

No fundo, apenas achei a entrevista interessante pela crueza com que Freud abordou todos os temas com os quais foi confrontado, incluindo uma pergunta sobre achar que o sexo é a principal motivação do ser humano. O austríaco acredita que sim, o que foi muito controverso na altura, pois o debate sobre a sexualidade, e ainda mais a infantil (tema muito focado pelo Segismundo), era quase um tabu na sociedade, se é que ainda não o é ainda hoje. Porém, a ideia aqui a reter não é tanto a do ato sexual em si, mas antes a do alcance do prazer. O que nos remete para a primeira frase que referi.

"A morte é o parceiro natural do amor", por um lado, faz ênfase à correlação entre estes dois conceitos (em vez de morte, talvez ódio seja o mais indicado), e por outro, são estas as duas finalidades que Freud vê para a vida. Queremos morrer para alcançar o descanso de viver, mas, enquanto vivemos, queremos amar para podermos morrer descansados.
Pedro Mendes