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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Bruxelas - Semana 14

De volta a Portugal. O título é o que é pois, de facto, a semana passada foi a décima-quarta que passei em Bruxelas - se bem que, contando os dias inteiros passados na capital da Europa, esses foram apenas dois. Escrevo apenas hoje pois andei ocupado em ir ao Técnico para saber mais sobre a reestruturação do curso e tratar de arranjar orientador para a tese, e ainda em ir à FCUL ver o pessoal e organizar um jantar cá em casa ontem - que, como sempre, teve mais pessoas que o que devia ter pois eu quero sempre convidar toda a gente e esqueço-me da logística. Mas ya, é melhor isto do que partir uma perna.

Tal como escrevi no último post, voltei de Ljubljana na segunda-feira e depois, essencialmente, fiquei em casa até ir ajudar o Luis, um dos meus grandes amigos de Erasmus, numas provas de Inglês para entrevistas de emprego em Madrid, tendo jantado em casa dele num serão fixe com a família da colega de casa dele e ainda um irlandês que me disse que, na escola dele de puto, haviam uns doze sotaques, após eu lhe ter dito que num país tão pequeno com a Irlanda provavelmente isso não seria tão significativo como no Reino Unido. Afinal ya, é.

Em seguida, terça fui a uma banhada de uma conferência para estudantes de Erasmus, que era de borla para nós mas 10€ para o comum estudante e 50€ para o resto - eu nem isso em amendoins teria dado. À noite, fui com um amigo português que esteve lá ao Scott's Bar, para a última Erasmus Tuesday, e em seguida para o Delirium, onde uma gaja toda narsa foi contra ele e então o amigo/namorado/pai dela nos pagou uma rodada com o seu American Express tirado duma carteira cheia de papéis. Ah, o capitalismo. Na quarta, fui ao último treino de voleibol antes do próximo ano, onde conheci uma moldava bacana, e tive a última aula de Didática, que consistiu basicamente em falar durante 45min (20min para mim, pois cheguei atrasado), ir depois perguntar ao professor como é que era, e ele dizer que ya, a cadeira acabou, todos passaram, agora as notas saem em Janeiro, sem exames, sem nada. Tá-se bem.

Na quinta, tive as últimas aulas de Fluidos e Nanofísica, onde tentei dar o toque para a oral - em Fluidos, que na verdade se chama Dinâmica de Fluidos e Plasmas, não chegámos sequer a falar na última parte, e eu estava na cadeira para isso, pelo que fui dizer isso ao professor mas não sei se terá grande efeito -, e parti finalmente para Hamburgo. Na sexta de manhã, apanhámos o ferry e fomos passear pelo distrito português, onde almoçámos no Sr. Júlio, um nortenho onde já tinha ido com o Luis na vez anterior e que te serve pão com manteiga de alho de borla e com um menu de almoço de 6€ que inclui sopa e prato, mas um prato tão bem-servido que pedimos para guardar e ainda o fomos jantar à noite em casa. Como a Hanna trabalha às sextas e sábados, precisamente quando eu estive lá, foi posteriormente para a Iitala, a loja dela no centro, e eu fui para o meu primeiro free tour, este por St. Pauli e pelo porto, voltando a apanhar transporte aquático. Foi bastante interessante e deu para conhecer este distrito tão alternativo, por onde voltaria a estar no dia seguinte, desta vez num tour de arte urbana e onde fiquei com o contacto de um australiano bué australiano. Ainda passei pelo estádio do St. Pauli para comprar um emblema - e acho que fiquei um bocadinho fã -, antes de ir apanhar a Hanna na loja e ainda irmos passear um pouco pelo lago, dar um salto a um bar que ela conhecia e ir finalmente para casa.

No sábado, último dia, ela já entrava às 10h, pelo que eu fiquei até mais tarde em casa e fui dar um abraço ao Jöchen, o meu host de couchsurfing na outra vez. Ficámos aí uma hora a falar, com ele a pagar-me o chá e uns bolos tradicionais alemães de cujo nome não me lembro e que levei para Bruxelas, e onde falámos sobre política, uma vez mais. Curto mesmo de falar com ele, aprendo imenso. Depois disso, fui então andar pelo roteiro da arte urbana da segunda maior cidade da Alemanha - e não percebo por que é que o pessoal dá gorjetas de 20€ em free tours, isso é ir contra o conceito porque senão que fossem para um pago - e ainda estive uma hora com a Hanna antes de me vir embora. Gostei bastante de termos estado juntos de novo, e enquanto assim o quisermos, não há qualquer necessidade de rotular as coisas e de pensar no "e depois?". A única coisa que quero saber, e que lhe disse, é que, em caso de guerra, a Alemanha não será propriamente o melhor país para se estar e que quero que ela esteja segura. De preferência, comigo.

Cheguei a Bruxelas às 20h15, fui a casa, jantei, fiz a mala, fui à festa de Erasmus - onde houve, finalmente, boa música -, sendo que o Nenad, o croata que conheci em Hamburgo, estava por lá e veio também à festa, além do Mehdi, um gajo do BEST com quem depois também estive em Copenhaga. Despedi-me do pessoal pouco antes das 4h, pois já estava a ficar merda, e vim mais o Nelson de táxi a casa para dormir (meia-hora, pior decisão de vida) e pegar as malas para ir Schuman apanhar o autocarro e, posteriormente, o avião às 8h15. À chegada, um dos meus afilhados, a namorada dele e um dos meus grandes amigos de infância foram-me buscar ao aeroporto, tendo jantado em casa deste último com mais pessoal, e depois fui ainda a casa de outra amigo e quinei por volta das 18h, tendo ido para casa dormir 3h, depois acordar, começar a ver um filme, dormir mais umas 6h e assim chegar a segunda-feira. Já tinha imensas saudades disto tudo, em particular do pessoal. E de serem 16h e estranhar ainda ser de dia.

Daqui a pouco, vou com o meu irmão e mais o Zé e o irmão para o Tramagal. Regressar, finalmente, a casa. Quanto ao blog, só regressará daqui a três semanas, quando voltar a Bruxelas. Os meus votos de Boas Festas, convosco e com os vossos!

Pedro Mendes

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Bruxelas - Semana 13

Desde que marquei a viagem a Ljubljana, há cerca de dois meses, que sabia que, quando acontecesse, iria significar que estaria a apenas uma semana de acabar o meu Erasmus (ainda terei Janeiro, mas já será altura de exames e, apesar de para mim ser mais ou menos o mesmo, não o será para a maioria das pessoas). E de facto, já posso dizer que estou a menos de uma semana de regressar.

Começando pelo início, na segunda-feira apresentei o trabalho para o curso de Francês, sobre o Tintim. Basicamente, o meu grupo fui eu e três gajos beta, que nem sequer leram a saga mas enfim, há que fazer um trabalho, portanto bora lá com este bacano que parece ativo e interessado. Fomos ao museu Hergé, em Louvain-la-Neuf - recomendo imenso -, onde eles estiveram uma hora e eu quase o dobro, e para o trabalho, deixei 4/5 slides feitos, fui para Hamburgo, volto e nem sequer dez estão. No dia da apresentação, um deles apenas saiu do grupo no Facebook e não apareceu. Mas ya, correu fixe, não falei tão bem como já queria falar mas foi uma experiência e certamente que melhorei. O resto, sabe de si.

Na terça e na quarta, o principal que fiz foi ir à European Angst Conference, uma conferência sobre o estado social e político da Europa, e em especial da União Europeia, atualmente, que contou com nomes como o filósofo esloveno Slavoj Zizek e a Nobel da Literatura alemã Herta Müller - esta última que falou nos discursos de abertura, que eram nas línguas de origem dos oradores mas havendo auscultadores com a tradução para inglês ou francês à entrada, coisa que desconhecia a priori, pelo que fiquei tão entediado que até li o relatório do PISA durante esse tempo. No geral da conferência, deu para concluir que, de facto, a maior parte do "mal" é originada pela inação dos "bons" e não pela ação dos "maus". Esperemos que abramos os olhos em breve, pois prevejo que, caso a Marine Le Pen ganhe para o ano, o que levaria à saída da França da UE, esta caía e, daí até a uma hipotética Terceira Guerra Mundial, era uma questão de meses. O quão eu quero estar errado.

E lá fui, então, para Ljubljana na passada sexta-feira. Fui com a Mireia, a espanhola/catalã (depende se está a ler isto hoje ou daqui a uns anos) com quem já havia perdido o voo para Dublin mas, e dada a importância desta viagem - marcámos logo no início de outubro e ela tem uma grande amiga lá a estudar -, correu tudo bem para ir. Chegámos cedo, fomos a casa da Berta, a amiga, deixar as cenas, fomos comer a um spot bacano que faz refeições de cada país com uma certa periodicidade (comi uma sopa zimbabweana), por exemplo, tendo-se juntado a nós a Nora, a colega de casa da Berta que é galega e que conhece Chaves, e andámos a passear até jantarmos por casa. À noite, já cá estavam o Tomás e a Inês, meus antigos colegas na FCUL, de Biomédica (o meu curso honorário), e fomos só beber essa e ir xonar, pois no dia seguinte havia que acordar cedo.

Sábado, alugámos dois carros, pois éramos oito - tendo ficado a cerca de 20€ a cada, com gasolina e seguro incluídos - e fomos passear pela Eslovénia, tendo ido primeiramente a um lago que agora não sei qual é mas que não achei nada de especial, apenas engraçadito. Em seguida, subimos à catarata de Pericnik, uma coisa incrível mesmo, e seguimos para a mítica Bled, uma localidade construída à volta de um lago lindíssimo. Não estivemos aí muito tempo, o que foi pena, mas ainda deu para comer o bolo típico, muito bom também, ver as vistas e voltar a Ljubljana pois às 17h já estava escuro. Depois de voltar a jantarmos por casa, estivemos ainda por lá com os amigos da Berta e os meus - e a tentar fazer uma torre de latas de cerveja, até que, e após ela estar sempre a cair, caguei só e disse a um dos alemães para as pormos debaixo dos pés e andarmos a fazer ice-skating - e eles foram sair, sendo que eu fui ter com uma eslovena que se ofereceu para me dar couchsurfing.

Foi uma experiência fixe, pois conheci os (bêbedos) amigos dela, fomos sair para o Cirkus, onde ao que parece se paga sempre entrada mas os contactos deste pessoal levaram a que entrasse à pala, um sítio com dois manos a fazerem de DJ USB e a mandarem umas rimas só para disfarçar mas que, pelo menos, não era a merda de Latina e Reggeaton que é por Bruxelas, e bazámos já depois das 4h. Em casa dela, a Ziva ficou com um dos amigos, assumo que (pseudo)namorado e eu na sala com a gata, que ela me tinha avisado que existia. Porém, não esperava que saltasse por todo o lado, se quisesse pôr debaixo do meu cobertor, o que, a juntar à minha alergia, fez com que ainda antes das 8h desse o baza por não aguentar mais. Andei cerca de uma hora sozinho por Ljubljana, que é uma cidade relativamente pequena, pois parei a meio de ir para a praça central num pequeno centro comercial para comer algo e ir à casa-de-banho. O que consegui, pois devia estar com um aspeto tão perdido que, após perguntar à gaja de um café onde era e ela me dizer que não havia, me deu a chave da do staff do seu estabelecimento. E a minha mãe ainda acha que andar barbudo tem desvantagens.

Depois, fui ao hostel dos meus amigos, fomos a um free tour - onde o gajo, um porreiro, voltou a dizer as piadas que todos fazem, seja em Copenhaga, Hamburgo ou Ljubljana -, passámos no Castelo, que se for só pelas vistas, como nós fomos, só vale a pena pelo passeio, deixámos a Inês na estação, fomos para o Tivoli comer ganda hamburguer de carne de cavalo, e depois disso voltámos, fomos de novo ao centro para aí beber um vinho quente (isto sempre a preços modestos) e depois de o Tomás se ir embora, voltámos a casa pois o meu aspeto não melhorou muito desde o episódio com a generosa moça dessa manhã. Ficámos a ver um filme pela noite - quer dizer, eu vi metade, previ o final e fui dormir -, e hoje voltámos a Bruxelas. Podia ter corrido tudo bem, se o avião não se tivesse atrasado, eu tivesse conseguido avisar o gajo do blablacar pois, além de ter mudado de número sem me dizer, o site estar a crashar - o que também não me deixou reservar outro - e, assim, não ter de arrotar dezassete euros para vir no shuttle. Enfim, não será disto que me irei lembrar, ou pelo menos não será o principal. Estes imprevistos todos é que me estão a deixar sem dinheiro nesta reta final, está a ficar complicado e quero mesmo aproveitar o máximo possível antes de regressar.

Esta semana terei imenso que fazer, pois tenho amigos cá, uma conferência sobre competências multiculturais na Europa - explicarei melhor no próximo post - e vou na quinta-feira de novo a Hamburgo, para voltar no sábado, ir à Erasmus Goodbye Party e domingo de manhã estar de caminho para voltar a Lisboa. Para Hamburgo, uma vez que cada viagem é 5€ e demora uma hora, vou para ver a Hanna, a finlandesa com quem estive no início do mês. Não sei no que vai dar, nem quero saber na verdade, pois, e uma vez mais, pensar demais neste tipo de coisas só faz pior; estou descomprometido, apetece-me, a ela também, vamos fazê-lo, ponto. Além do mais, a Marta parece que deixou de me responder, sendo que, caso se deva a isto, não acho justo; falo dela aqui desde Setembro, sugeri-lhe trocarmos postais/cartas, não me parece que seja algo que faça com todas as gajas, ainda para mais estando agora três meses fora. Gostava mesmo que tivéssemos algo e continuo a ter isso como prioridade, mas (por enquanto) não temos, pelo que não devo nada a ninguém; e se fosse ao contrário, aceitá-lo-ia sem problema. Na minha cabeça isto faz sentido, talvez na dela não então, mas isso é só mais uma razão para irmos jantar no domingo e falarmos de vez das coisas. Vamos ver como vai ser no regresso à ocidental praia lusitana.

Um bem-haja,
Pedro Mendes

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Bruxelas - Semanas 11 e 12

Eu sei, estou de novo uma semana e um dia atrasado, mas ya, ter pessoal em casa, viajar e tal, não tive mesmo tempo em nenhum dos dois passados domingos para o fazer; na verdade, no primeiro não me lembro por que raio não tive mas agora já é irrelevante.

Nesse fim-de-semana, o mais fixe que fiz foi participar numa simulação do Conselho Europeu. Basicamente, cada um dos participantes tinha um papel - lobbista, membro da Comissão, deputado de cada país da UE (ou quase, pois Portugal não estava representado no meu tema, por exemplo) - e haviam, então, três temáticas, sendo que a minha foi sobre a Defesa dentro e fora do espaço europeu.

Com imensos italianos na simulação, calhou-me a mim o papel de representar os transalpinos. Tínhamos uma proposta da Comissão que ia ser submetida ao Parlamento para ser aprovada mas, antes, passava pelo Conselho e podíamos votar por alterações à mesma, consoante os nossos interesses - os meus, por exemplo, era que a Itália fosse a sede dos battlegroups da UE e que fizesse alianças com França e Alemanha, entre outros. No final, consegui que algumas alterações que sugeri fossem aprovadas, quer após negociar com letões e eslovenos, quer britânicos - que basicamente eram contra tudo, é claro - e espanhóis (no caso destes países, curiosamente, eram italianas quem os representava) mas as que incluíam os países "grandes" a mandar foram chumbadas por causa dos votos negativos dos pequenos. No fundo, acho que simulámos bem a cena.

Depois disso, tive cá amigos, e então fiz finalmente um tour pela cidade, andámos a passear e eles tinham space cakes, por isso apanhámos uma moca bacana na terça-feira (isto com cada um a comer um quarto de bolo, imagino os assados que enfardam um inteiro), dois deles foram embora quarta, e na quinta tive cá outro ainda e andámos a passear até eu depois ter as minhas aulas.

Na sexta, fui para Hamburgo com o Luis, um dos gajos com quem mais me dou por aqui. A cidade é muito fixe mesmo, com uma mistura arquitetónica muito bem conseguida entre o novo e o velho, é uma outra versão de Veneza no norte da Europa - os italianos não gostam nada que o pessoal diga isso de outras terras apenas por também terem canais -, com a segunda maior ilha fluvial do mundo, a seguir a, claro está, Manhattan. O gajo onde fiz couchsurfing é que foi mesmo bacano connosco, ajudou-nos com direções, emprestou-me um casaco após ter perdido/terem-mo levado num bar, ainda nos deu comida, mas no geral achei o pessoal careto como o caralho; mal se esforçam para ajudar os turistas e/ou falar inglês. Eu não gosto de generalizar nacionalidades, mas a minha amostra de alemães, a juntar aos dias que passei em Munique e Colónia, não é mesmo a mais positiva.

Isto, claro, excetuando a Hanna, uma finlandesa que conheci no sábado. Íamos no comboio e perguntámos por onde era o City Hall - provavelmente o mais bonito que já vi - a um sírio que mal falava inglês, até que ela interviu para nos ajudar e saiu connosco para nos mostrar o caminho pois trabalhava numa loja na avenida que vai desde a estação central até lá e que, nessa noite, estava à pinha mesmo com uma boa parte dos quase 2M de habitantes da segunda cidade mais populada da Alemanha. Quando nos íamos a despedir, disse-lhe que ia passar mais logo para ver a loja e mesmo apesar do meu amigo achar má ideia, fi-lo, e ela estava de pausa, pelo que perguntei por ela a uma colega sem saber ainda, na altura, o seu nome - tanto que essa colega lhe foi depois dizer que um weirdo passou por lá e para ter cuidado.

Nessa noite, fizemos um pub crawl e disse para a Hanna aparecer, pelo que se juntou a mim, ao Luis e a um croata mesmo bacano que trabalhava nos EUA mas que se demitiu há uns meses e na noite anterior havia gasto quase mil dólares nos bares de strippers e assim. Eventualmente, ficámos sozinhos e envolvemo-nos e ainda fomos a outro bar com o resto até o resto ter desaparecido no último de cinco, ao passo que o Luis já há muito que não se via e começava a ser preocupante. Quanto à cena do casaco, quando o entreguei para o roupeiro, o gajo só deu um papel à Hanna, não a mim, portanto assumi que fosse para os dois, e no final não estava lá nada; ao que parece, vendo as câmaras, um mexicano com quem falámos durante a noite e que era, ou parecia, bacano, levou-o e estou agora a contactar a organização para ver se o encontro.

Voltámos a estar juntos no dia seguinte à noite, lá em casa do Jöchen, o anfitrião onde fiquei a dormir, e depois de novo em casa dela tal como na noite anterior - sendo que, desta vez, já pude sair pela porta e não pela janela. Foi fixe, precisava de algo assim há alguns meses e o melhor foi que correu exatamente como idealizei e com ela passou-se o mesmo, pela primeira vez. Não consegui evitar ficar triste quando me vim embora, e o Luis, que acabou todo perdido nessa noite e que encontrei em casa na manhã seguinte, de direta, disse que a vida é aprender a despedir-se, e deve ser a coisa mais acertada que já o ouvi dizer.

Um bem-haja,
Pedro Mendes

domingo, 20 de novembro de 2016

Bruxelas - Semana 10

Mais uma semana, e o mundo está um pouco mais perto de rebentar. Às vezes sinto-me como se já tivesse 30, 40 anos e me estivesse a lembrar de como é que tudo começou: o Putin a sair do TPI, o Brexit, o Trump as eleições e o pessoal a dizer "claro que ele não vai ser assim tão mau...", o Erdogan a ir lentamente despedindo professores e juízes até acabar também com o cargo de Primeiro-Ministro... Eu não gosto muito de ter razão e as coisas correrem mal, portanto espero que o Pedro do futuro se lembre do Pedro do passado (atual presente) como um pessimista. E não como um realista.

Mas bem, agora que já vos deixei num mood pensativo, o que é que tenho para contar? Bem, no início da semana, fiz o que faço sempre, aula de Relações Internacionais e depois de Francês, para onde temos de fazer um trabalho de grupo sobre um aspeto da cultura belga. Eu queria fazer sobre o Tintim, portanto fui com o meu grupo - dois italianos e um espanhol, os gajos mais anhados de sempre, que nem sequer leram os livros mas que se juntaram apenas para terem um tema - a Louvain-la-Neuf, ver o Museu Hergé, que é de facto sobre toda a obra do artista belga mas quanto à qual, e a não ser que o protagonista fosse um jovem jornalista ruivo, caguei.

Só fomos hoje ao museu, no qual estive duas horas pois é mesmo fixe, com modelos do submarino de Rackham, o Terrível, da estátua d'A Orelha Quebrada, dos Charutos do Faraó, um modelo do foguetão que os levou à Lua (ainda antes dos americanos) em ponto pequeno, pois o grande está no aeroporto de Zaventem e vi-o logo quando cheguei, e ainda uma foto da aranha "gigante" vista ao telescópio n'A Estrela Misteriosa. Fiquei a saber a história por detrás da história, passe o pleonasmo, que o Chang do Lotus Azul existiu mesmo, do surgimento das personagens, enfim, gostei mesmo. E ao que parece há um Tintim que ainda não li, o Alph-Art, que parece que é uma história inacabada do Hergé. Vou ver se compro a versão original nos próximos dias.

Tive um fim-de-semana em cheio, na verdade; quer dizer, o Nole perdeu hoje o título do Masters e não conseguiu, assim, recuperar o número um ainda antes do final da temporada, mas eu disse logo após Roland Garros que, para mim, a temporada já estava feita, e certamente que ele terá agora tempo para voltar ao seu melhor daqui a já menos de dois meses. Voltando ao que tenho feito, fui finalmente ao concerto de MONO, Alcest e pg.lost na sexta, onde me colei a uns flamengos bacanos logo à entrada, e foi tão fixe que saí de lá como se tivesse passado o dia no ginário. A ordem das bandas foi a oposta à que escrevi, mas a relevância e, portanto, a duração, foi esta: pg.lost tocaram 5/6 músicas, o que foi pena pois queria ter ouvido mais, Alcest foram tipo 45min e depois vieram os japoneses, que não disseram uma única palavra e tocaram imenso, tendo feito durar três horas no total.

Após o final do concerto, vim para casa dormir umas 3, 4 horas, pois fui às 6h da manhã para Amesterdão, onde passei o sábado. Quer dizer, inicialmente estive em Zaanse Schans, um terra típica holandesa cheia de moinhos, e depois chegámos pela hora de almoço e, após comer, fizemos um tour pela cidade com uma chuva horrível. Foi provavelmente o único senão, pois Amesterdão (Amstel, o rio, dam, barragem/dique) é diferente de todas as cidades onde jáfui. Primeiro, os holandeses que conheço parecem ser de facto todos cinco estrelas, e depois porque, desde que não interfira ou ofenda alguém e contribua para a sociedade, se pode fazer tudo. Isto é um pensamento bastante acertado a meu ver, pois de facto a erva se for legalizada tem muito mais vantagens para o estado do que se não, e o mesmo se aplica à prostituição, que é ilegal essencialmente devido a questões religiosas. E as gajas que estão no Red Light District, meu Deus, se não contribuem... Ah, e ya, fui fumar com o gajo da organização da viagem para uma coffee shop após o passeio e após isso apenas ficámos por lá a colar ou mudámos de bar umas duas vezes, a última para conhecer a holandesa que me convidou para sair em Copenhaga e ver que destoava bastante do que se via nas montras pelas ruas. Ainda bem, de certo modo.

No resto da semana, ya, tive aulas, fui a algumas, voltámos a não ter na sexta-feira pois hoje é o dia do fundador da ULB e quiseram celebrar num dia de semana; assim, não tenho Nano há quase um mês, após a semana intermédia onde não houve por haverem poucos alunos, o feriado da passada e agora esta. E para marcar os exames orais, sugeri fazê-lo no grupo da turma e fizeram logo grande filme que era preciso falar com não sei quem e fazer não sei o quê; afinal não quero assim tanto marcá-los e vou só usar a carta do "eu não posso aí, sou de Erasmus" caso seja proposto para depois de 25 de janeiro; queria ver se ia à Escócia para me despedir do Erasmus, pois não voo por 20€, ida e volta, para lá desde Lisboa.

A carta da Marta éque nunca mais chega, e agora já são duas que vêm a caminho. Amanhã é o quinto dia útil desde que ela mandou a segunda, portanto, supostamente terá que chegar. Senão acho que vou falar com o bacano não-bacano dos Correios aqui de Etterbeek, que da outra vez me perguntou se falava inglês, eu disse que sim e continuou a falar francês sabendo que não estava a perceber. Putain.

Vá, ide dormir, que eu tenho merdas para fazer.
Pedro Mendes

domingo, 13 de novembro de 2016

Bruxelas - Semana 9

Como diz a parte materna da minha família, "cá estamos". Mais um semana que passou e já estou definitivamente na segunda metade do período de aulas, com cinco semanas pela frente (wow, agora que escrevi o número é que me apercebi de facto do quão pouco é). Estive em Louvain-la-Neuve, uma cidadezinha típica de estudantes perto de Bruxelas e da "versão" mais conhecida da mesma, Leuven - parece que os flamengos e os francófonos se chatearam, daí agora existirem as duas - e que faz lembrar Aveiro, pela construção, e Coimbra, pela bebedeira, en route para passar a sexta-feira em Colónia, no Carnaval local; já lá tinha estado logo no início do semestre, também com o pessoal tuga que conhecemos de lá, e agora, quase dois meses depois, pareceu que tinha sido na semana passada que lá tínhamos ido. E ainda ontem estava em Copenhaga e amanhã começa a terceira semana do mês. O tempo passa rápido que é uma coisa incrível.

Ora, mas o que raio é que foste fazer a Colónia, Mendes? Na verdade, já ninguém me chama Mendes há imenso tempo; é-me automático apresentar como Pedro e quase que oiço mais vezes chamarem-me Pablo, por causa do bigode que insisto em usar, que o nome que a minha mãe me deu - quando, segundo o meu pai, me queria chamar algo não muito comum. Nailed it.
Mas bem, ya, fui a Colónia, tal como disse (leiam tudo, por favor) ao Carnaval, pois o 11/11 é o dia do Armistício da I Guerra e, pelo menos na Bélgica, é feriado. Basicamente, foi ver pessoal mascarado e/ou bêbedo (pelo menos uma das condições e não necessariamente por esta ordem de eventos), uns bacanos a pôrem uma coluna no meio da rua num carrito a passar alto trance e a malta toda a ir atrás a dançar - tive de sair da Bélgica para finalmente não ouvir reggeatons e latinas e essa merda que passa por aqui - e, às 11h11, parecia que era véspera de Ano Novo e o pessoal passou-se. Moral da história: duas vezes que fui à Alemanha, a extremos opostos, as duas de autocarro para ficar bêbedo.

No resto da semana, bem, fui finalmente ver o hemiciclo do Parlamento Europeu na segunda-feira. Foi bacano, quisemos ir na segunda para ter um guia humano e não o audio, mas a letã que nos estava a explicar as coisas não sabia muito daquilo - tinha apenas um mês de experiência - e, portanto, isso não valeu muito a pena mas é sempre fixe. Fui ainda pela terceira vez ao Parlamentarium e já sou finalmente uma enciclopédia viva da UE. No resto do tempo, estive no meu primeiro evento do BEST, o Food Festival, onde basicamente cortei tomates - não os meus, pois teria de usar uma serra e não temos um orçamento assim tão grande - e abri baguettes para o pessoal que ia lá ver o que fazíamos. Esta terça-feira há outro, onde devo ir contar a minha experiência no curso. Na quarta, foi o encontro de professores de Física da região bruxelense, na minha aula de Didática, e fui lá mas a sala estava cheia, e apenas de professores, e portanto vim-me embora; pelo caminho, encontrei um professor que me disse algo como "és aluno mas serás um futuro professor" e ainda tentei voltar mas era fisicamente impossível. Além de que tenciono ensinar, ou educar, pelo menos, mas duvido que venha a ser de facto professor.

Já saiu o calendário de exames. Ao que parece, porém, só com os escritos; os orais têm que se marcar com os professores, o que é fixe, mas deixou-me pendente até agora e sem o saber. Basicamente, tenho o exame de Relações Internacionais - cadeira para a qual tenho casos de estudo para fazer, ou pelo menos assim reza a lenda - a 25 e volto a 29, de janeiro, para Lisboa, pelo que queria ver se entretanto ia a Bucareste ver os meus peeps romenos que conheci aqui no curso. Vou agora esta semana mandar e-mails e tentar falar com os professores para os marcarem todos para antes desse dia. Por falar em contactos via internet, a FCUL continua sem me pagar e eu continuo a insistir; agora parece que a culpa é da AE, pelo que amanhã já vou contribuir para o número de mensagens não lidas dessa malta que a única coisa que faz é fumar cigarros à porta da associação e fazer festas com metade da qualidade que anunciam - generalizando, claro. Gostava de ter ido para lá, já tinha os contactos quando saí da FCUL e acho que teria boas hipóteses de, pelo menos, ter lugar de destaque na lista atual; como sabem, isso não aconteceu mas o Francisco, um dos meus melhores amigos e o gajo que não assim tão poucas vezes recebe mensagens minhas de "meu, achas que ... é boa ideia?", vai fazer parte da lista e isso já é fixe.

De resto, a primeira carta da Marta não chegou na semana passada - o senhorio diz que eventualmente chegam sempre, no entanto - e ela disse que vai reenviar amanhã, e atualizada. Isso é fixe, estou de facto bastante expectante e é um ponto positivo do tempo parecer que está a passar rápido. E como prometi que ia escrever exatamente o que queria escrever, tenho de referir uma espanhola que há por aqui com quem há um não-algo que pode vir a ser algo; ela está com um certo mecanismo de defesa, ou talvez algo mais, e o pessoal à nossa volta parece que pressiona um bocado haver alguma cena mas, e em última instância, se ambos de facto quisermos, julgo que acontecerá. E isso não invalida em nada o que comecei por dizer neste parágrafo, pois são situações e, essencialmente, momentos diferentes que eu distingo perfeitamente na minha cabeça. Só preciso de não pensar demasiado nas coisas e desfrutar do meu período aqui. Ah, e estou a gostar de aprender dinamarquês no duolingo, acho que não me vou fartar e quando voltar a Portugal e já tiver net frequentemente no dia-a-dia, volto a usar a app.

Um bem-haja, meus caros.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Viagem a Copenhaga

O post desta semana vai sair já hoje, pois, para mim, a minha semana acabou quando voltei de Copenhaga. Até domingo, o que vou fazer - a começar por hoje, quando cheguei para a segunda parte de uma aula e, como à primeira só tinha ido um aluno, não houve mais nem sequer a da tarde - será, talvez e ainda assim, um bocadinho mais que o número de candidatos adequados à Casa Branca para as eleições da próxima terça-feira.

Na noite de Halloween houve esta festa de Erasmus em casa de umas amigas e eu tinha reservado um Blablacar para ir para o aeroporto de Charleroi para as 4h30 (que depois passaram para 4h15), pelo que levei logo a mala feita para ir direto. Entretanto, e após uns shots, outras cervejas, uma erva trazida de Amesterdão e ter ficado de pelota, o pessoal saiu para ir para os cafés ao pé do Cemitério de Ixelles, onde a malta sai entre o campus de Solbosch e o de La Plaine - para onde eu fui apanhar o carro.

A viagem foi tranquila, comigo ainda meio bêbedo e a começar a ressacar ao mesmo tempo. Chegando ao aeroporto, a de avião então foi a que passou mais rápido: só me lembro de sentar, adormecer, vir uma hospedeira pedir-me para levantar a mesa, dormir novamente e, de repente, ser de dia, estar a chegar e a bebedeira ter passado. Perfeito, bora lá.

Fui deixar as coisas a casa de uma amiga que está lá a estagiar, dormi uma hora e fui para o centro onde ia ter um free tour pela cidade de hora e meia. Aprendi factos bastante interessantes (por exemplo, há uma fonte, construída pelo rei Christian IV, que foi feita para deitar vinho, em vez de água, para uma cerimónia), fui almoçar no Copenhagen Street Food Market e, depois de ir a um posto de informações e descobrir que o passe que comprei de 72h tinha alcance até onde estava a ficar alojado - e, portanto, ter já gastado o mesmo número de coroas para nada nesse dia -, decidi não deixar para depois e ir desde logo a Malmö. A viagem, ida e volta, foi de cerca de 170 coroas, ou seja, 22€. Além da Escandinávia ser provavelmente a zona mais cara da Europa depois de, provavelmente, Londres e Paris, a noção de dinheiro é feita às dezenas: para eles, algo que custe até cinquenta "cenas" é considerado barato, pois 35 DKK equivalem a cerca de 5€.

Entretanto, cheguei a Malmö, após ter vindo a falar com um dinamarquês (temos de começar a ser como os ingleses e os espanhós e a chamá-los de "daneses", é bem mais curto) que falava espanhol e, depois de ter ido ao turismo e sendo já 15h30, pus-me logo a andar para sul, para ao pé de uma torre futurista que é também o ponto mais alto da península.

A torre não é nada de especial; tem uma forma em espiral, ya, mas é meramente de apartamentos, pelo que nem sequer fui muito perto dessa zona, toda ela cheia de casas também elas avant-garde. Agora, o pôr do Sol com vista para a ponte que liga a Dinamarca à Suécia é uma cena linda. Aconteceu às 16h30, o que quer dizer que, pouco mais de meio dia antes, estava eu consideravelmente não-sóbrio em Bruxelas. E agora, estava sozinho, a levar com vento por todos os lados, no sul da Suécia, a olhar para o Sol a pôr-se às 15h30 do meu país Natal. Lindo.

Como decidi ficar um bocado mais a passear por essa zona, quando fui finalmente para o centro da cidade, já não havia luz natural. Porém, deu para ver parques e zonas verdes com água pelo meio, praças bastante arranjadas, pessoas na rua, luzes, enfim; Malmö, como dizem os espanhóis, "me encanta" e hei de certamente voltar. Ao voltar para ir apanhar o comboio, desta vez na estação na parte norte e não na Central, onde havia saído três horas antes, o mesmo havia sido cancelado sem razão aparente; nada é perfeito, afinal.

Cheguei a casa já só por volta das 20h30, para jantar com a Inês, e depois disso uma holandesa convidou-me para "hang out" pelo couchsurfing, onde andei à procura de alojamento previamente. Como tinha outro tour, este de três horas, às 11h do dia seguinte e estava com uma hora de sono seguida em cima, demorei a decidir-me e ela depois acabou por ir para casa - e, ao que parece, ter alguns problemas que felizmente se resolveram -, pelo que combinámos encontrar-nos para me mostrar a cidade quando for a Amesterdão daqui a duas semanas.

O dia seguinte começou, então, com esse tal tour, o Grand Tour, por três quilómetros pela cidade, onde voltaram a falar dos incêndios que houve na cidade - dois, o que é incrível dado o frio que estes bacanos rapam -, do príncipe que é casado com uma australiana que conheceu nos olímpicos, no bispo Absalon que ganhou uma batalha pois destruiu a estátua do Deus de outro pessoal e então eles acharem que, assim sendo, a única coisa a fazer era a rendição, e muitas outras. Foi aqui que conheci uma escocesa, a Nicole, com quem fui depois ver A Pequena Sereia - que não é tão fixe como dizem os não-dinamarqueses, mas também não tão desapontante segundo os locais - e que combinei ver mais tarde antes de fechar a janela do Facebook onde anotei o nome dela. Felizmente, após chegar, acabei por a encontrar e talvez a volte a ver.

Depois disso, fui para o tour por Christiania, um bairro de Copenhaga, desta feita em castelhano pois as espanholas e mexicanas que vinham também desde Bruxelas já tinham chegado, além da minha colega de casa portuguesa. Este bairro é especial pois tem a sua própria lei (de certo modo) e, apesar de desacatos recentes, a polícia não entra, ou algo do género. O que há a reter daqui, porém, é que recomendo imensamente estes tours para quem for à capital "danesa". Só tenho pena de não ter tido mais dinheiro para a gorjeta, uma prática quanto à qual sou contra no geral mas não em casos com este.

Depois disto, fomos comer para um bar de estudantes de Erasmus e juntou-se a nós um gajo do BEST que conheci aqui em Bruxelas e que está lá em mobilidade. Fomos para a sua residência - enorme, para 700€ por pessoa por mês, com portas "normais" automáticas à imagem do resto da cidade - onde ficámos a beber, sendo que depois, e após as raparigas se terem ido embora, ainda fomos a um bar (com ele a explicar-me grande tática para tentar sacar uma das mexicanas e eu a rir-me bué) mas estava fechado e fui então também eu para casa.

Ontem, o último dia, já não fiz nenhum tour. Fui deixar a bagagem ao hotel delas, levei-as ao Grand Tour, fui ver dois museus. Primeiro, as ruínas do palácio de Christiansborg - que começou por ser construído pelo tal bispo badass há mais de 800 anos, tendo mais tarde passado a ser castelo "oficial" da cidade e ir agora na terceira versão com o nome atual (castelo de Christian), pois as duas anteriores, tal como o resto da cidade em algum momento, ardeu. É por isso que algumas casas não têm a esquina em 90 graus, mas em 45 graus, pois foram remodeladas após um dos incêndios e estando assim é mais fácil de combater um possível fogo no local. Aprendi bastante sobre a história da cidade nesse lugar; por exemplo, Kobenhavn, o nome da cidade, vem de Koben (mercado) e Havn (forma curta para porto). Bem, na verdade isto aprendi pois estava mal explicado na exposição e fui posteriormente questionar um dos gajos na bilheteira, mas conta. E vale mesmo a pena, pois também se pode ver, com outro tipo de bilhete, a antiga cozinha (40 DKK para estudantes, 60 DKK "normal") e ainda o local onde a rainha faz, ainda hoje, receções a convidados (o dobro do preço).

O outro museu que fui ver, após ter perguntado a umas dez pessoas, foram os Danish National Archives, que não sabia o que era mas que consistia numa exposição sobre como era ser um jovem dinamarquês nos anos 50 e 60, ou seja, em plena Guerra Fria. Não se pagava, mas não era por isso que não deviam ter mais que apenas um pequeno resumo em inglês, pois gostava de ter aprendido bem mais do que fiquei a saber. Este recomendo caso passem lá perto; se não, dá para ver na mesma recortes de jornais e objetos da época, mas se não souberem a língua vão ficar consideravelmente à toa.

Após isto, juntei-me novamente às hispânicas perto da "sirenita" e fomos à torre do Christiansborg ver uma vista fenomenal por Copenhaga - uma boa maneira de me despedir da cidade. Depois, fomos a um shopping ver de chocolates e merdas que elas queriam (na verdade era apenas comida), fui ao hostel pegar a mala, fui para o aeroporto, onde houve grande espera após ter chegado atrasado à porta de embarque mas o voo chegou na mesma a horas - e fui à janela, para contrariar o clássico aviso da Ryanair de "reserve o seu lugar, pode ficar com um no meio"!

Chegado a Bruxelas, bem, tive de arrotar 17€ pois não consegui um blablacar, por ter estado na fila errada, só apanhei o da meia-noite e quando cheguei já não havia transportes e paguei mais 15€ para chegar a casa. Ridículo, estava quase a bufar mas é aqui que há que ser estoico.

Conclusões da viagem: Copenhaga é do caralho. Pagava tranquilamente 68% de impostos para ter o país a funcionar bem, organizado, com pessoas que nem pensam em se esquivar às leis pois as coisas, de facto, funcionam e bem - até uma televisão com notícias e wifi nos autocarros têm! Acostumando-me ao clima, ponderarei seriamente viver por lá; aliás, hoje mesmo comecei a aprender dinamarquês no duolingo para isso mesmo. Foi uma grande experiência, das melhores pelas quais já passei.

Um bem-haja,
Pedro Mendes

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Bruxelas - Semana 7

E outubro já está a acabar. O tempo começou por parecer que estava a passar devagar nos primeiros dias, mas este décimo mês do ano (basicamente, desde que estive na Oktoberfest até que fiz anos, ontem) foi-se num instante. E com isso, já metade do meu Erasmus.

Após voltar à "vida real", depois do curso do BEST, juntei-me ao grupo local daqui da ULB. O presidente é cinco estrelas e a malta, no geral, também, e como disse, não estou nisto apenas por estar e para depois entrar no grupo de Lisboa mais facilmente; comigo, se é a sério, é a sério, e vou querer fazer coisas. Quanto depois a voltar a Portugal, na verdade, não sei se me quererei de facto juntar ao LBG - Local BEST Group - de Lisboa; não gosto de ambientes de pseudo-cultos e elitismos e infelizmente, não estou a generalizar assim tanto ao dizer que tudo o que acontece no Técnico segue estes "valores".

De resto, tenho jogado voleibol e estado cada vez mais em forma. Mentalmente, ainda estou lento a responder a certas jogadas, mas fisicamente já voltei a mover-me como o fazia no secundário. Entretanto, acabei o curso de A0 de neerlandês e o professor disse para continuar agora no próximo nível, mas já chega; tenho imensa coisa para fazer e já tenho bases para perceber algumas coisas, que era o que queria.

O meu aniversário correu fixe, jantámos em casa da Seline, com umas italianas amigas delas, e depois apareceu um bacano do BEST com mais umas seis pessoas (tinha-me dito que eram só três) e fomos para o centro sair, para o Mezzo, um dos mil bares que só passa reggeaton e merdas dessas mas, e enfim, tá-se bem. Um professor de 35 anos todo narso pagou-me duas cervejas por fazer anos e ontem jantei em casa da Ilaria com uma prima dela e fomos à festa de Techno a que queria ir há bué mas que foi meio flop, pelo que que retornei à base relativamente cedo.

Na terça-feira, vou para Copenhaga; tenho o voo às 6h55 em Charleroi, pelo que vou direto de uma festa de Halloween, que há amanhã, apanhar um blablacar às 4h15 ao pé de La Plaine e assim gastar apenas 5€ em vez de, pelo menos, 19€ (14€ do shuttle que há desde a Gare do Midi para esse aeroporto e o Collecto, uma espécie de táxi low-cost, a 5€, para lá). Vou mais ou menos sozinho, mas fico em casa duma amiga, tenho lá um bacano do BEST de cá, na quarta chegam as mexicanas e a minha colega de casa e mais duas espanholas, pelo que teremos um relativo grupinho. Não sei é ainda se conseguirei ir a Malmö, mas gostava.

Depois, volto de Copenhaga na quinta, tenho aula na sexta, e volto a sair daqui, provavelmente para Maastricht no próximo fim-de-semana - onde tenho três amigas - e vou finalmente a Amesterdão (e a Zaanse Schaans, uma vila típica holandesa ao que parece) no dia 19, indo direto do concerto dos MONO no dia antes. A 22, irei literalmente passar a noite a Dublin - dois euros cada viagem, chego às 19h e pouco e parto de volta às 6h mas pelo preço era de aproveitar -, talvez volte a Amesterdão com um grego que conheci no curso e no último fim-de-semana antes de vir irei a Ljubljana. Isto tudo, no total, pouco passa dos 100€, exceptuando as deslocações para Charleroi nos casos de Copenhaga e Ljubljana. Não tenho estudado muito, é certo, mas tenho de aproveitar estes preços e esta localização para isto; além do mais, do que já percebi, tenho "apenas" duas cadeiras a sério para fazer cá, que não vou subestimar mas que posso ir adiando.

A Marta disse que me ia mandar uma carta amanhã, algo que me deixa q.b. expectante. Há bocado, no twitter, deixou-me imensamente sem jeito. Mas vou parar de pensar demais sobre as coisas e ir só dormir, pois, depois das 10h, só voltarei a fazê-lo numa cama na manhã de terça-feira e apenas uma hora no máximo.

Um bem-haja,
Pedro Mendes

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Bruxelas - Semanas 5 e 6

Olá! Eu sei, eu sei, além de estar atrasado uma semana, hoje já é domingo e como tal esta publicação devia ter saído ontem. Porém, tenho razões válidas para isso, que passarei a explicar em breve.

A semana cinco não foi, de facto, nada de especial; aulas sem perceber nada porque a Física é complicada e a minha paciência para a esgotar já está perto do fim - apesar de que o irei fazer, como é óbvio -, jogar voleibol, aprender holandês e, chegar a sexta-feira e saber que não terei direito a bolsa de Erasmus+. Agora, um mês depois de ter vindo e mais de três de ter aceitado a vaga.

Se o critério é a média, não posso fazer nada quanto a isso, pois é bastante objetivo. Agora, essa é a pior maneira de assegurar uma justa distribuição do dinheiro relativo às bolsas, e sou um gajo demasiado imparcial - tenho amigos que odeiam discutir comigo precisamente por isso mesmo - para estar a dizer isto apenas por ser o meu caso. Tenho mais dois irmãos a estudar no ensino superior, estamos os três deslocados da nossa habitação oficial, sem nenhum apoio do estado, de todo, e não tenho direito a bolsa, prevista, de resto, para todos os estudantes em mobilidade, por causa de ter uma média inferior? É o ser "diferente" do Técnico a funcionar, como sempre. Ainda não apresentei queixa, mas vou certamente fazê-lo, uma vez mais.

E ainda não o fiz pois estive desde esse mesmo dia, 14, até ontem, num curso do BEST - Board of European Students of Technology - aqui em Bruxelas. Provavelmente, os meus melhores dias desde que cá cheguei.

Basicamente, o plano foi, nos fins-de-semana ir visitar, Bruxelas e Brugges no passado sábado, e ter a semana ocupada com aulas durante o dia e festa pela noite. Começando pelas aulas, sobre a temática da água e as suas aplicações, parece que acabei o curso com 16 valores (1,5 ECTS) mas não faço ideia de como, dado que, na quarta-feira, fui a Antuérpia ver o torneio de ténis local e nos outros dias passei as aulas, apenas e só, a dormir ou a tentar fazê-lo. Aulas de duas horas com outras tantas de sono não dá com nada, e não é por isso que existem estas coisas.

O resto foi muito fixe mesmo, conheci pessoas espetaculares, a quem dei alcunhas que pegaram logo - o Georgios "Armani", o Victor "Vodka", o russo que levou meia mochila para a semana toda, o Cristian "Drakula", o Kostas Kotsiras Kualquer-coisa "KKK" e ainda o presidente do grupo da ULB do BEST, o "Mr. P." Samy que me vai fazer membro oficial aqui para ser mais fácil entrar depois no de Lisboa, quando voltar. As raparigas é que não eram nada de "especial", pois ou eram giras e desinteressantes, ou bacanas mas menos esteticamente agradáveis.

Bem, pelo menos à exceção de uma, a Kamil(k)a. Demo-nos logo bué bem desde o início, com toda a gente a dizer para "ir lá", que foi o que fiz, para receber de volta um "não sou assim" e um chocho. Ainda havia uma semana pela frente, e deixei-lhe claro que também não sou "assim", pelo que não iria tentar com mais nenhuma e que esperava ter deixado claro o que queria. Durante o resto do tempo, o MO, Main Organiser do curso, começou a aproximar-se e eu não ia fazer disso uma competição; não é a minha maneira de ser e não estava no curso mas para isso, mas para estar com novas pessoas e fazer coisas novas, como ficar completamente nu ao som da danse du limousin ao final de cada noite. 

No final, parece que de facto houve alguma coisa entre eles, não que ela não continuasse a achar piada a tudo o que eu dizia e a fazia e a vir ter comigo e o gajo, de quem não curto muito independentemente disto, a não a largar e se for preciso a falar-me como se fossemos os melhores amigos. Sou um tipo bacano, por mim tasse bem, agora, não curto joguinhos nem merdas dessas, apesar de também os saber fazer - outros amigos meus dizem que tenho demasiado jeito com gajas para o quero delas. Portanto, ya, se não consegui o que queria por não ter feito mais nada - sendo que até fiz -, é assim e pronto, quem espera que, de uma interação comigo, eu seja o único elemento ativo, a mesma cessará eventualmente. E é pena pois o gajo só a quer como espécie de troféu, tanto que vou agora jantar para os anos de uma amiga, e eles também podiam ter ido mas o Sacha, esse MO, disse que vão jantar não sei onde com outros BESTies e que depois nos vemos no centro da cidade.

A moral da história com isto tudo é que ando mesmo com "medo" de ter algo com alguma gaja e que, quando me decido por um "bora lá", parece que nunca conseguimos estar no mesmo plano de intenções - ao que se junta este meu enfado em jogos e sinais e merdas. Enfim, na verdade isto, e seja o que for, é tudo irrelevante se as coisas com a Marta correrem bem quando voltar a Lisboa. Vamos ver.

Um bem-haja,
Pedro Mendes

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Bruxelas - semana 4

Adivinharam: estou bué cansado. Hoje estive em Ghent pela segunda vez desde que cá estou, após ter ido lá há três semanas para basicamente não fazer nada de especial, e isto após termos ido sair ontem, e anteontem, e portanto o sono não andar a ser muito.

Ando a gastar cada vez menos dinheiro por semana, o que é bom, e a sair também. Porém, a motivação para estudar continua onde tem estado desde o início do mestrado: em todo o lado, menos na minha cabeça. Isso por um lado deve-se, ainda, a esta fase inicial do semestre e, ao fim deste tempo todo, já desisti de me tentar enganar a mim mesmo: pura e simplesmente, não tenho um método de estudo. E poderia fazer por o adquirir, mas as coisas têm corrido bem, pelo que não vejo interesse em fazê-lo; no fundo, acho que as vezes em que me sinto mal por não estudar não é por ter necessidade de tal, mas por causa da pressão social à minha volta. De qualquer modo, já tenho o horário totalmente definido, pelo que já posso, finalmente, definir, pelo menos, uma rotina mais estável.

Basicamente, estou inscrito em seis cadeiras, mas já avisei os professores de duas, Astrofísica e Física de Partículas, que não irei às aulas e apenas ao exame final para ter um 0, ou 1, e assim poder ser avaliado. A prof de Partículas achou ridículo, e eu também o acho, e disse mesmo que, assim sendo, não me iria fazer perguntas nenhumas e só me dizer olá, mas é assim que são as regras e não me posso prejudicar em relação a isso. Portanto, vou essencialmente focar-me em Dinamyque des fluides et plasmas (onde não ando a perceber piço, mas acho que se deve mesmo ao conteúdo e não à língua e a malta diz que é uma cadeira considerada fácil), Nanophysique, que parece ser à base de demonstrações chatíssimas mas é em inglês, somos quatro e o professor é bacano, e Didactique de la physique; tenho um bocado medo desta cadeira, pois não sei se o meu francês é suficiente e quanto trabalho terei, mas acho que vou gostar. Depois, queria ainda ver se conseguia ter de facto aprovação a Relations Internationales, pois aposto que não há nenhum engenheiro física no mundo com esta cadeira no currículo e, acima de tudo, interesso-me por estes temas.

Para voltar cá a Bruxelas é que enfim, vou voltar no dia 9 de janeiro pois fica-me a um terço do preço que vir antes. Olha, a época de exames é que só começa nesse dia, e o seu calendário será anunciado apenas no final de Novembro... Esperar até essa altura é levar a que os preços subam imenso, e em três semanas, ter um exame logo no primeiro dia não é assim tão provável. E se for, bem, a diplomacia portuguesa tem estado bastante reputada nos últimos tempos e portanto seria altura de a pôr em prática.

Já a cidade onde estive hoje, Ghent, é engraçada, tem monumentos e história, um canal no meio para se estar e esteve bom tempo. Depois disto, irei ainda a Antuérpia, para o European Open, na semana de 17, e provavelmente a Ljubljiana com a Mireia no final de novembro; uma amiga dela dá-nos casa e temos viagens a 40€, ir e vir, portanto acho que é de aproveitar. Nos meus anos e na semana seguinte é que ainda não sei o que fazer, pois ir a Amesterdão por 140€ para uma mega festa de Halloween e duas noites e depois à Escandinávia, como o pessoal quer fazer, é algo que ainda fica caro. Provavelmente terei de optar, e prefiro ir passear.

Quanto a línguas, já estou nos cursos de Francês e Holandês. O primeiro é bastante interativo, o professor é bacano - acabei há bocado a expressão escrita que ele tinha pedido até sexta, mas ya, não deu para fazer antes -, e o segundo é com um holandês que acha a língua dele a melhor coisa do mundo. E na verdade o neerlandês é relativamente simples, pois é essencialmente vocabulário alemão em gramática inglesa; a pronúncia é que é mesmo estranha, preciso de prática. Estou, ainda, num tamdem, uma atividade que consiste em conhecer alguém que fale uma língua que eu queira aprender e, assim, trocar conhecimentos. A minha parceira é a Martina, uma italiana que quer aprender português e fala alemão, a próxima língua que quero saber; porém, até agora, ela fala bem melhor a minha (nossa) língua que eu a dos germânicos - e a dela também. Acho que, pelo menos durante outubro, enquanto ainda estou no holandês, vou deixar isto unilateral e "apenas" ajudá-la com o português, porque senão acabo por me baralhar todo e não aprendo nem neerlandês, nem alemão como deve ser. Ah, e do que percebi, o atual neerlandês é a mistura dos chamados flamengo e holandês, portanto é tudo a mesma língua.

Ora bem, vou dormir. Um bem-haja.

Pedro Mendes

domingo, 2 de outubro de 2016

Bruxelas - semana 3

Estou extremamente cansado para escrever grande coisa, mas acordei que iria fazer isto e portanto, vamos lá. Tal como prometido na publicação anterior: entrámos na primeira semana de Outubro!

Antes de mais, uau, o tempo passa mesmo a correr. Este ano civil, e ao contrário de 2015, que foi um ano que não me correu especialmente bem, já tive imensas experiências diferentes e se, tudo correr bem, vou continuar a tê-las. Uma que quero que pare rapidamente, porém, é a que tive nesta semana passada, em que os meus dias começaram quase sempre comigo a (re)enviar e-mails, reclamações, enfim, a tratar de problemas que não existiriam se os serviços académicos, quer aqui em Bruxelas quer em Portugal, fossem competentes. Que, é verdade e já o escrevi aqui, eu não sou o aluno mais dedicado, sou um baldas, mas se há coisa na qual me considero exemplar é em me informar sobre o que tenho de fazer e qual o procedimento para esta e aquela ação; o caso é, não o posso fazer com segurança e certidão, quando as pessoas com quem me devo informar, não sabem (ou não parecem saber, espero eu) o que estou a fazer.

Antes de mais, reclamei do Técnico pois enviei um requerimento, cujo resultado não me foi divulgado por e-mail tal como tinham dito que aconteceria - ignoraram-me, literalmente, por cinco vezes; depois, o mesmo foi-me dado a conhecer, mas não os motivos do seu indeferimento, pelo que enviei nova reclamação (e esta aqui até comecei com, por lapso, "que tal assim?", pois o meu pai ainda a tinha estado a rever). Finalmente, a resposta que tive foi, basicamente, é assim a lei e pronto. Tudo bem, mas então, que sejam competentes e que expliquem e divulguem as merdas aos alunos.

Aqui, esta malta acho que consegue ser ainda pior; na verdade, Bruxelas parece-me uma cidade que funciona pior que o que, à partida, poderia parecer. Inscrevi-me numa cadeira para este semestre, que, na quinta-feira, mudou de repente para o segundo, e fui falar com o responsável pela mobilidade da ULB, que foi, em seguida, falar com o secretariado (fechado na sexta-feira, mas aberto para ele) e que lhe disseram, e passo a citar "we made a mistake. It happens". Pois, não. O gajo da mobilidade, um tipo mesmo bacano comigo e que perde o tempo dele a ver comigo horários e cadeiras, só foi falar com o secretariado quando eu falei em fazer uma queixa, e depois ainda me vem dizer que os estudantes estrangeiros são a menor preocupação da universidade e que, quando falei que, assim, se calhar não os deviam ter, me diz "we still have plenty, don't worry". Têm azar em não ter sabido disto antes de concorrer, senão nunca me teriam posto a vista em cima.

Finalmente, o meu coordenador de Erasmus no Técnico, às vezes levanta situações que não sabe bem como são e que depois me deixam preocupado, mas também tem o bom senso de, como me disse hoje, se ir informar, e portanto, o que vou ter de fazer agora é simplesmente escolher outra cadeira e enfim, fazer na mesma 30 ECTS cá (seis cadeiras), quando na verdade só preciso de metade, aos quais juntarei os três créditos do curso de francês que começo amanhã, para ter equivalência às cadeiras no Técnico. Este programa é tal e qual o espelho da União Europeia: burocrático e desorganizado.

Provavelmente irei escolher Astrofísica, após falar também amanhã com o professor, e assim, terei, finalmente uma cadeira da minha primeira profissão de "sonho", à qual se junta Relações Internacionais, a profissão que teria numa vida sem a preocupação de ter uma carreira estável. Ou que ainda virei a ter, veremos.

E enfim, estou cansado porque voltei hoje da Oktoberfest, após ter partido de Bruxelas na sexta ao final da tarde e ter, assim, passado as últimas duas noites num autocarro. O meu grupo voltou a ser extremamente aleatório, com um paquistanês (que me fez pagar 20€ pela mochila pois disse que não havia problema em as levarmos, e depois, como houve, "escondêmo-las" atrás duma árvore e acabaram nos perdidos e achados), um chileno, que ficou simplesmente todo bêbedo a voltarmos para o autocarro - eu fiquei mais cedo, portanto passei a viagem já de ressacada - e ainda um espanhol que, à última da hora, decidiu ir comigo mas que como já era tarde para ir desde Bruxelas, teve que ir apanhar o autocarro a Colónia. De resto, conheci ainda uma Hong-Kong-nesa, uma mexicana e imenso pessoal com quem tenho fotos e não faço ideia de quem sejam lá na festa. Que parecia especial para alemães, pois não foram poucas as vezes que fomos barrados sem razão aparente ao entrar nos lugares.

Assim me despeço. Um bem-haja, caros leitores virtuais que podem, na verdade, não existir de todo mas que merecem na mesma uma despedida. E este foi o centésimo post no blog, afinal.

Pedro Mendes

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Bruxelas - semana 2

Segundo post e já me sinto a ficar sem frases de abertura. Hoje ainda posso sacar um "Primeira semana inteira em Bruxelas...", no próximo domingo poderei usar "Chegámos a Outubro!", mas depois disso, e como não me lembro de nada por agora, vou deixar esse problema para o Pedro do futuro, que é um gajo que, quando não estraga tudo, me resolve bastantes situações - por outro lado, o Pedro do passado ou me deixa orgulhoso ou me dá vontade de gozar com ele e/ou lhe dar um par de estalos.

Antes de mais, as aulas. Tenho atividades letivas em três "sítios" diferentes: na Faculté des Sciences (a minha, mas desta vez com um B a mais no acrónimo), na VUB, a universidade flamenga, que tem uma parceria com a ULB - sendo estas duas no enorme campus La Plaine - e talvez ainda no campus principal e o mais animado, o de Solbosch. Digo "talvez" porque tenho ainda pendente o processo para alterar uma cadeira que escolhi em Ghent (que tem uma parceria com a VUB, tendo usado isso para me criarem especificamente um código para essa cadeira) para... Relações Internacionais, em Bruxelas.

O caso é que, como pensei que a cadeira de Plasmas na ULB, que é 90% de fluidos e apenas 10% de plasmas, não me ia dar equivalência depois no Técnico, inscrevi-me em ambas para prevenir essa situação; afinal, o coordenador autoriza a primeira, e assim, sendo que já que estou cá e me interesso por estes temas, gostava de frequentar algo (bem) diferente da minha área e com um professor, Mario Telò, que é uma grande autoridade no tema. O problema é que, como isto do Erasmus+ é ridiculamente burocrático, preciso novamente das assinaturas dos coordenadores quer de Lisboa, quer daqui de Bruxelas, e o do Técnico veio agora com uma conversa de que, se me inscrevia em 30 ECTS cá, tinha de ter equivalência aos mesmos lá; ora, se eu me inscrevi em trinta, foi porque mo disseram no Técnico para fazer, de maneira a "encher" o learning agreement, uma vez que eu não tenho de todo mais cadeiras possíveis de fazer fora do IST - tenho apenas três, ou seja, 18 ECTS. Espero bem que seja só um problema de comunicação, pois não há hipótese de isto agora me correr mal.

Mas bem, voltando ao tema inicial, as aulas são, essencialmente, iguais a Portugal: duas horas, comigo a já estar farto ao fim de meia, cerca de dez pessoas na sala - em RI estarão provavelmente umas boas dezenas, no entanto - e o professor a falar com relativo entusiasmo. No geral, consigo perceber, pelo menos, a ideia base, uma vez que muitas palavras são semelhantes ("particule", "trajectoire", "fluide")... Uma coisa boa é a avaliação ser por oral, algo que acho que faz bem mais sentido em mestrado, e a poder fazer em inglês caso assim o prefira.

Depois, fui ao Parlamento com uma bacana brasileira que conheci pela noite bruxelense mas chegámos tarde demais para o visitar e ficámo-nos pelo Parlamentarium, o centro didático com uma exposição sobre a história da UE, que também não tive tempo de ver como deve ser (sendo, portanto, provável que lá volte). No fim-de-semana estive em Louvain-la-Neuf para os anos de uma nossa, numa noite porreira, mas depois já de madrugada decidiu-se ir no dia seguinte a Ghent e o resultado foi termos lá chegado já depois das 16h, ou seja, com três horas de sol ou pouco mais.

A malta de LLN queria lá ficar num hostel, nós não, mas como só começaram a ver disso às 21h, voltaram connosco para Bruxelas, onde, a irmos para casa, saí de um autocarro noturno para ir buscar o resto do pessoal, que depois já estava noutro, e como resultado tive um não muito bacano a abordar-me e já a falar em me acompanhar a casa, isto após o novo autocarro se ter atrasado e ter acabado a pagar 12€ de táxi. A conclusão a que cheguei é a mesma a que chego sempre: ou saio com malta decidida a fazer as coisas e a ir aos sítios e a não se prender pelos outros, ou saio sozinho.

Esta semana vou tentar adotar uma rotina (bem) mais contida em termos de gastos, até porque irei à Oktoberfest no dia 30 e já gastei mesmo bem mais que o que queria e devia, apesar de, enfim, serem os primeiros dias e as despesas de passes e afins virem todas agora. Uma despesa que não acontecerá é a de usar as bicicletas da cidade; devido a uma promoção, terei agora seis meses sem pagar subscrição, pelo que, se andar no máximo meia-hora seguida, não pago nada - e para qualquer um dos campi demoro somente uns dez, quinze minutos. Depois de ir a Munique, estou a pensar em ir a Liège e a Dinant com o grupo de Erasmus durante o próximo mês, passar os meus anos em Amesterdão e outras cidades da Holanda, ir talvez à Polónia em Dezembro e, caso ainda dê, ir a Anfield Road - afinal, não trouxe a camisola dos Reds apenas para me obrigar a mudar as malas na altura do check-in no aeroporto.

Quanto à vida por cá, uma coisa é perder-me na matéria em português, outra é fazê-lo em francês, pelo que, e eu sei que digo isto todos os semestres, neste irei mesmo tentar ter tudo em dia. Terei seis cadeiras, em que uma delas, Techniques of Artificial Intelligence, será essencialmente de programação (coisa que eu mal faço desde 2012) e a tal cadeira de Plasmas que tenho obrigatoriamente de fazer, Dynamique des fluides et des plasmas é, como já referi, mais fluidos que outra coisa, que é provavelmente a área da física com a matemática mais complexa - e a cadeira de meios contínuos que tive na FCUL foi a maior palhaçada.

De resto, tenho amanhã/daqui a oito horas um teste de nível de francês para um curso de 3 ECTS, 30 horas. O meu nível é provavelmente alto demais para este curso, uma vez que na descrição do mesmo vem "A2 -> B1/B2" e eu já tenho o B1 e muitos francófonos me dizem que me safo bastante bem, mas o problema de me ter inscrito no de 5 ECTS (60h) era que, assim, ficava com menos tempo para um de flamengo que quero também frequentar.

É verdade que não tenciono voltar a pegar nessa língua depois de me ir embora de Bruxelas, mas já que cá estou, quero aprender alguma coisa e quando receber os ordenados milionários que se diz que os formados do MEFT têm, poderei aprofundar melhor o idioma gaulês - nem que seja no BNP Paribas, que vejo por toda a cidade e vai ao Técnico recrutar jovens engenheiros. Pena que não seja a minha cena. Depois, sugeri à Marta trocarmos postais enquanto cá estou e ela achou boa ideia; é uma cena engraçada de se fazer e dá para amenizar um pouco o facto de agora só a voltar a ver em dezembro. Pelo menos ficar a conhecê-la melhor é garantido, espero.

Pedro Mendes

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Bruxelas - semana 1

Num jantar com uns tios meus na passada terça-feira, surgiu a ideia de ir escrevendo o que vai passando durante a minha estadia em Bruxelas, onde estarei no primeiro semestre deste ano ao abrigo do programa Erasmus+, e acho que é algo que vou cumprir numa base semanal: assim, não corro o risco de, quando contar as histórias, me lembrar das memórias e não do que aconteceu em si, além de que raramente me aborrece escrever e ainda mais sobre o que vou fazendo.

Não pensei que fosse acontecer, mas estou com alguma inércia inicial agora nestes dias. O meu grupo tem sido eu, a minha colega de casa (Filipa), que conheci no curso de Francês na FLUL, um colega meu de curso no Técnico (Nelson) e uma italiana (Ilaria), uma espanhola (Mireia) e uma suíça (Seline, que pensava que era alemã pois é de Friburgo que, para mim, só existia nesse país da União Europeia). Estas três últimas fazem parte do grupo mais aleatório de sempre; fiz um post numa página de Erasmus para arranjar casa, elas as três deram like e/ou comentaram, e criei um chat em conjunto; acabámos por ficar os quatro em habitações diferentes, mas agora não se iria ficar apenas pelo Facebook. A casa é bacana, o senhorio é fixe e a Filipa, apesar de ser preciso puxar por ela, costuma alinhar nos planos do pessoal - a quem ontem se juntaram amigos nossos de Leuven, aqui perto.

Tenho tentado falar o máximo possível em Francês, especialmente com os locais. Com outros estudantes de Erasmus, a equação é simples: se são brasileiros, falamos Português, se são espanhóis, não falamos Inglês (com a Mireia, ou falamos Espanhol ou, quando ela começa a puxar para o anglo-saxonismo, eu mudo para o idioma gaulês), com canadianos, como com os que conhecemos ontem, depende do número de cervejas em cima. Que são mesmo muitas, mesmo para um gajo se perder de vez em quando.

O tempo tem estado bom, ao que parece, melhor que o normal, mas o Miguel, o meu senhorio, já avisou que para o mês que vem isto é coisa de começar a anoitecer por volta das 16h30. É demais, mas um gajo habitua-se; o que é mais estranho é mesmo a casa-de-banho ser no piso de cima, sendo que são quatro, e para ir às compras ter de me deslocar a cada uma das patisseries, boulangeries, brasseries e outras coisas acabadas em -ies - onde é tudo muito mais caro que em Portugal pois hoje, por exemplo, não comprei nada de especial e gastei 25€, o que no Pingo Doce da Carlos Mardel me deixa abastecido por uma semana. São estas as coisas que tenho vindo a estranhar, dado estar habituado à minha vida simples em Lisboa, mas pelo menos tenho a noção disso e portanto vou lutar contra esta "preguiça" até ela desaparecer.

Depois, é raro eu ser o gajo que não quer andar em grupo, mas hoje, quando fomos ver o Sporting levar três do Rio Ave aqui ao Café Portugal (com SuperBocks e a Casa do Benfica, portanto, perto de ser o Paraíso), reparei que o pensamento genérico do pessoal é "se todos forem eu também vou, então" e "não me apetecia muito mas não ia ser o único a não ir". Pessoalmente, gosto quase sempre de ter companhia e é raro não a querer, mas há já alguns anos que deixei de não fazer seja o que for por estar sozinho - o que é uma maneira de pensar que me faz sempre receber um clássico "então mas vais sozinho?!" mas, ao pé da minha colega polaca no Técnico com quem fui ao Algarve em Julho, o meu individualismo não é nada. Se a malta vier comigo é fixe, se não, dia 30 estarei na mesma em Munique para a Oktoberfest sem problema nenhum.

Tenho este blog há uns cinco anos mas não sei de ninguém que o leia sem ser quando espeto o link de uma nova publicação no chat do Facebook e, como tal, isto é um pouco como quando nas madrugadas de Lisboa vou nu, sem óculos nem lentes, para a varanda após ter estado em vias de facto no meu quarto (especialmente agora que já tenho o estrado da cama arranjado); se eu não consigo distinguir ninguém a olhar para mim, então não me causa qualquer confusão que o estejam a fazer. Portanto, como, até ver, e de certo modo ainda bem que assim o é, o Uspeti é quase como escrever no Word e guardar numa pasta qualquer, vou falar de relações nestes posts, coisa que evito ao máximo fazer em público na internet.

Nesse mesmo dia em que fui jantar a casa dos meus tios, fui em seguida ser entrevistado para o Observador, tendo em vista um artigo sobre o MEFT ser agora o curso com maior média de entrada (que pode ser lida aqui). A entrevistadora, que já nos seguíamos no Twitter há alguns meses, conseguiu surpreender-me e ser uma pessoa ainda mais interessante que o que eu pensava, o que tem sido cada vez mais difícil de encontrar. Digo, encontrar que não tenha já namorado, o que, na verdade, faz sentido: se eu considero uma tal rapariga um bom partido, certamente que não serei o único a fazê-lo, e vice-versa. Por isso é que foi mesmo fixe tê-la conhecido termos ido depois ao Real depois da entrevista, e tê-lo-ia sido ainda mais se no dia seguinte ela tivesse podido ir ter comigo ao PubhD, uma das melhores iniciativas de Lisboa. Não pôde e eu agora vim para Bruxelas, porque enfim, quando finalmente encontro uma potencial "a tal", se não está comprometida, é porque eu vou passar três meses no centro da Europa.

Como disse, é-me cada vez mais difícil encontrar um gaja que ache que valha de facto a pena. Já estou farto de estar em cenas que sei que não vão dar, e que provavelmente até poderiam dar e eu é que adoto desde logo essa mentalidade, mas isso é porque, nas que achei que iriam, foram elas que acabaram, e eu fico sempre todo fodido (o que não se verifica ao contrário, e ainda bem). Por isso, não sei bem como será a minha vida aqui nesse aspeto, tenho evitado pensar muito sobre o assunto, o que é impossível mas pelo menos vou tentando e, conhecendo, duvido mesmo que me envolva em algo de especial. Só sei que, conhecendo a minha cabeça dura, vou chegar a Portugal e querer na mesma voltar a sair com a Marta, aconteça o que acontecer por cá; quero bué voltar a ativar o modo Disney, como dizem os meus amigos para gozarem com o facto de me estar a cagar para colecionar gajas, e isso não será em Bruxelas de certeza. Se será com ela ou não, veremos.

Pedro Mendes

domingo, 11 de setembro de 2016

A hipocrisia da Praxe

Não é novidade nenhuma que somos um país do "parecer bem". Não gostamos de ser criticados - só gostamos de críticas "construtivas", o que, como li recentemente, em Portugal só os elogios é que entram nesta categoria -, gostamos de falar mal por fora mas, quanto a fazer de facto algo para mudar aquilo que achamos que está mal, aparecem os "enfins" e os "mas pronto, ...". No fundo, queremos é sentir-nos bem connosco próprios, tendo para tal o mínimo trabalho possível.

Por isso mesmo é que todos os anos aparece a palhaçada da conversa anti-Praxe. O Ensino Superior está cheio de problemas, que enumerarei mais à frente, mas o que importa são as cartas abertas, as sugestões, enfim, todo esse folclore na comunicação social tendo em vista "fomentar o debate" quanto à legitimidade, ou o que lhe quiserem chamar, da tradição académica.

É uma boa tática para distrair do que está mal na Universidade, não digo que não. Afinal, a opinião pública é, no geral, contra a Praxe, uma vez que uma notícia do género "aluno de Gestão em Coimbra chora na Queima das Fitas após cinco anos ligado à Praxe" não vende; porém, se o título for "jovens estudantes da UMinho caem de penhasco após ordem de veterano", é para dobrar a tiragem encomendada!

Esta atitude é, acima de tudo, encabeçada pelo nosso Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel Heitor. Um homem quanto ao qual, como não conheço pessoalmente, não seria correto da minha parte fazer juízos de valor e que respeito como ser humano, mas que tem sido bastante infeliz nas suas declarações quanto à Praxe - parecendo-me, até, que está a ter dificuldades em deixar de lado a sua opinião quanto à situação.

Não tapemos o sol com uma peneira: há muitos retardados na Praxe (tal como em todo o lado, de resto), cujos atos, se assim o justificar, devem ser criminalizados e os seus praticantes, punidos. Agora, é função de um Ministério preocupar-se com o que os alunos fazem por serem precisamente isso, alunos? Não haverão problemas muito mais graves, como:

- A qualidade dos serviços académicos, muito burocratizados e, alguns, sem suporte online, cujos erros, deliberada ou indeliberadamente, acabam por prejudicar, não assim tão poucas vezes, os estudantes em matérias de escolhas de horário, de cadeiras e de pedidos de documentos (não incluídos na ninharia que é a propina de 1065€)?

- Os professores que "marcam" os alunos que não gostam (não digam que não acontece, por favor), que assediam estudantes durante as atividades curriculares, que criam a sua escala tendo em vista a nota que obteram "no seu tempo"?

- A transição para o mercado de trabalho, feita, muitas vezes, via estágios não-remunerados e sem os alunos terem a preparação adequada?

O meu curso é, neste momento, a par de Engenharia Aeroespacial, aquele que teve a maior média de entrada no concurso nacional de acesso ao ES. Os meus colegas partilham a notícia nas redes sociais, a coordenação envia um e-mail a felicitar-nos por este "feito"... E eu pergunto, é isto que faz um curso bom? Um curso que tem, na descrição, "formar capital humano"? Falamos duma faculdade que se preza pela exigência e o ensinar a pensar, ou numa fábrica? Mas mais ridículo ainda, é a rivalidade que se criou com Medicina - curso quanto ao qual acho simplesmente abominável que o método de entrada seja a nota numa, ou numas, prova(s) escrita(s) de uma, duas, três horas.

Continuamos a ser uma terra de doutores, a querer parecer inteligentes e a gabar-nos disso. E no meio disso tudo, desviamo-nos do problemas essenciais. Entre ataques à Praxe e vangloriação de estarmos num curso com alta ou baixa média, esquecemo-nos do que está mal no ensino e podíamos/devíamos mudar. Durante a minha licenciatura, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, pensei "não faz sentido os alunos não terem poder de decisão na escolha do calendário de exames".

O que é que eu fiz? Opção A - "mas enfim, é assim que é e pronto"; opção B - juntei-me ao Conselho Pedagógico e, no Verão seguinte, o calendário, antes de ser aprovado, foi enviado para os representantes de curso e as suas sugestões recebidas e tidas em conta (sendo que, quando terminei o 1º ciclo e saí da FCUL, logo também do CP, isso nunca mais voltou a acontecer). Espero que seja fácil de acertar.

Não sou um aluno brilhante. Fui-o até chegar ao Ensino Superior mas, assim que me apercebi da maneira mais fácil de fazer o curso e conseguir participar em simultâneo em todas as atividades extra-curriculares que me interessam, é essa que sigo e, como tal, licenciei-me com média de 13 - com 20 anos, o mais novo que conheço que tenha feito o mesmo - e conto terminar o mestrado com, na melhor das hipóteses, uma classificação de 15 valores. Por isso, posso sempre levar com o argumento de "falas muito, mas depois também não te esforças pelas coisas" e aceitá-lo; afinal, é raro achar que a minha opinião sobre alguma coisa é factual e não apenas algo que me é subjetivo.

Porém, e apesar de me considerar, e me considerarem, um tipo humilde, não gosto de ser modesto e se toda a gente tivesse a minha proatividade, tenho a certeza de que o estado do Ensino seria melhor. Porque se eu, com os meus 18/19 anos, consegui algo tão óbvio, mas tão pouco evidente para os encarregues de o fazer, de pôr os estudantes a terem voto nas suas avaliações, de certeza que conseguimos almejar muito mais. Basta estar para isso.

Quanto à Praxe, se há razão pela qual continuo a passar na FCUL e a querer saber o que vai acontecendo por lá, não é por ter saudades das aulas (ou pelo menos não é essa a razão principal). É porque foram as cerimónias académicas nas quais estive presente que me incutiram esse sentimento. Porque aos professores, o que é dos professores, mas aos alunos, o que é dos alunos.

Pedro Mendes

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Dois e meio em três?

Antes de escrever este post não me lembrava de um ano em que as coisas tivessem corrido bem a pelo menos dois dos meus três clubes - Benfica, Liverpool e Chaves, para quem não me segue em nenhuma rede social -, mas de facto em 2004/05, no primeiro ano em que comecei a ver futebol a sério, o SLB venceu o campeonato onze anos depois e o Liverpool sagrou-se campeão europeu pela quinta vez após aquela final épica de Istambul (que rivaliza com o jogo contra o Borussia, este ano, na luta pelo melhor de que me recordo).

Mas e correr bem aos três? Andando para trás, e considerando que, para o Chaves, "correr bem" é subir para a Primeira ou ficar em 5º lugar (a nossa melhor classificação), para o Benfica é ser campeão nacional e para o Liverpool é a mesma coisa e/ou ganhar uma competição europeia, a temporada que mais se aproxima desse conceito é a de 1989/90, quando os Reds ganharam o seu último campeonato, o Chaves ficou pela segunda vez da sua história nos cinco primeiros do escalão máximo do futebol nacional e o Máior chegou à final da Liga dos Campeões - sempre um grande feito mas, tendo-a perdido e não tendo sido campeão na mesma, "não conta". Podia era ter sido, finalmente, este ano, mas uma vez mais não irei rapar o cabelo.

Começando pelo início, o Chaves foi o primeiro a pôr-me a celebrar, ao regressar à Primeira pela primeira vez neste século - com a última presença a ter sido, curiosamente, no ano antes me ter vindo embora da minha terra. Foi um campeonato em que perdemos imensos pontos com empates após termos estado em vantagem e a não jogar, de todo, nada de especial - fui a Mafra e só fizemos dois remates no jogo todo! - mas é a Segunda Liga, nenhuma equipa joga um futebol de ponta e o que é certo é que somos a equipa com menos derrotas e a única com nenhuma delas a ter ocorrido em casa, pelo que é mais que merecido. 
Agora, para o ano, é para assegurar a manutenção o mais depressa possível e com um treinador com uma boa visão para o clube (queria o Petit mas acabou de renovar com o Tondela, que quis que descesse o ano todo mas acabei por também os apoiar na fantástica recuperação que protagonizaram). Certo é que não vamos continuar na palhaçada daquele campeonato onde há 46 jornadas e só sobem duas equipas, além de ir ser agora controlada pelo dinheiro de chineses que ninguém sabe muito bem de onde vêm.

E depois, bem, depois veio o TRInta e cinco! Tal como em 1994, precisamente no ano em que nasci, perdemos jogadores para os rivais durante o defeso e acabámos por ser campeões na mesma; porém, este ano foi sem dúvida especial. A saída do Jesus para o Sporting abalou desde logo o nosso futebol ainda em maio, a do Maxi, mais tarde, ainda mais (revejam a minha opinião nessas saídas aqui) e bem, o coitado do Rui chega a Outubro após termos levado três dos lagartos em casa e perdido com o Arouca, que na altura ainda era só o Arouquinha, não o fucking Arouca europeu. Pessoalmente, sempre o defendi, pois por defeito sou contra um treinador sair a meio da temporada e o Rui só estava a ter um mau desempenho nos clássicos; porém, contava em terminarmos a liga perto da liderança e uma boa campanha que potenciasse os nossos jogadores, não este segundo ponto a juntar ao título!
Tivemos sorte, há que o admitir; estes últimos jogos contra Boavista, Académica, Rio Ave, Vitória, podíamos perfeitamente ter desperdiçado pontos. Mas não o fizemos, e com isso a nossa segunda volta foi simplesmente tremenda (48 pontos, 16 vitórias e uma derrota) e isso parece-me ser demasiado flagrante para ainda se ouvir esta conversa da treta de que o Sporting é que merecia o título. Após tantos jogos ganhos com golos para lá dos 80min, os erros de arbitragem - que também caíram para o lado deles, apesar de o Bruno achar que não -, como falar nesse merecimento bacoco?

Não quero falar muito sobre os outros pois o que me importa é que os meus três clubes ganhem, mas este clima que houve no futebol nacional meteu-me um nojo enorme desde o Verão e eu, que até queria que o Sporting fosse, em breve campeão, fiquei mesmo feliz com o seu insucesso nesta temporada. Que é de facto insucesso, pois em segundo já o Jardim havia ficado e o Marco ganhou um título a sério no ano passado, não um jogo de pré-época. Para o bem do clube é, assim, tempo de o Bruno, ou o Jesus, ou ambos, assumirem responsabilidades e deixarem-se de enganar os sócios e adeptos. Que, com a euforia que viveram no regresso da equipa de Braga, não posso deixar de constatar que é claramente preferível um Benfica campeão na medida em que deixa adeptos de dois clubes contentes.

Finalmente, os Reds tiveram uma temporada que, a longo-prazo, conto (espero, na verdade) seja o início de um bom período para o clube, mas que no imediato não me satisfez de todo. Jürgen Klopp, para mim o homem ideal para o lugar de treinador em Anfield Road, só chegou a meio da primeira volta a Liverpool mas terminar a temporada em oitavo e ter perdido duas finais, significando isso a ausência das competições europeias na próxima época, tem de ser considerado pouco para aquele que é provavelmente o maior clube da história do futebol inglês. 
A segunda parte da final de hoje, frente aos cabrões do Sevilla que voltaram a ter mãozinha amiga do árbitro (não que sirva como desculpa, como já vão ver) é simplesmente patética e muita coisa vai ter que mudar. Pois, como disse, o Klopp é 100% o gajo; aquela direção é que não o é, pois com tanto dinheiro gasto, temos que fazer bem melhor. Mignolet não pode continuar, precisamos de pelo menos um bom central - e pôr o Clyne e o Moreno a darem o máximo ou então a despachá-los também -, um real substituto para o Stevie e, na frente, mandar embora todos menos o Firmino (surpreendeu-me pela positiva), o Sturridge e o Origi. Além de, claro, ser imperativo manter o Coutinho, o nosso único jogador de classe mundial a meu ver.

Se isso acontecer, isto foi de facto um ano de 2,5 em 3, ainda para mais considerando que o Leicester protagonizou provavelmente o maior choque que, pelo menos eu, me lembro de presenciar - e por quem comecei a torcer por volta de Abril, tal como a maior parte dos fãs de futebol. Rumo ao 3/3 (e à manutenção, e ao 36, e ao 19)!

E bem, é isto. Um bem-haja, meus caros.
Pedro Mendes

domingo, 31 de janeiro de 2016

Australian Open 2016

Brand new year, same old winner? I guess (and hopefully) this will be 2016 motto, as Nole's outstanding level of tennis doesn't look like it'll decrease any time soon.

I mean, he's starting to celebrate Grand Slam titles like Masters 1000 ones or something. And he keeps doing so because he just can't stop winning. With today's title in Melbourne, Djokovic clinched his sixth - fifth this decade - Australian Open and 11th Grand Slam victory - also the sixth since Wimbledon'14. In addition Nole has missed just one Major final since Roland Garros'14, being currently in a five-final streak in the category.

It's actually kind of funny that the only Grand Slam tournament where Nole has lost in the first round (not once but twice, in both 2005 and 2006) is also the one where he has the best results - and will probably be the most victorious tennis player ever, after tying up with Roy Emerson as six-time champion in Melbourne. Nonetheless, he first reached a Major quarter-finals (2006) and semi-finals (2007) in Roland Garros and he's still yet to conquer Paris; will this be his year? Hope so!

It's a fact that Nole struggled with Simon in the fourth round, but defeating such a consistent player like the Frenchman plus 100 unforced errors is quite remarkable. He wasn't at his best, but he then began to improve his level and those first two sets in the semis versus Federer were something out of this world. One can defeat Roger from time to time and Nole is doing it a lot since 2011, but being 6-1 6-2 up versus the four-time AO champ and 17 Grand Slam winner perfectly shows the Serb's supremacy against every single player nowadays.

Novak Djokovic is undeniably the currently best player in the circuit and of the decade, and if he does win Roland Garros I'll start to consider him the best ever. He may have less Grand Slams than others but with +10 Majors, a Career Slam and a positive head-to-head versus every Big 4 member is probably the best records one can achieve. I have grown up watching Federer playing the tennis of his life and I am quite a fan of his career, but it sometimes annoys me that some people can't recognize Djokovic's achievements as better than Fed's. For example, the Swiss has a miserable h2h versus Nadal and now a negative one versus Nole too and one can't deny most of his Major titles came in finals against frequently injured (Hewitt, Roddick), regular top10 (Baghdatis, González) or inexperienced (young Djokovic and Murray and Rafael "Clay" Nadal) players.

As for Andy's campaign, it was another great one and I'm damn sure the Brit will not retire without having one Happy Slam title at least. In my opinion, the main "problem" of his game is that it's too similar with Novak's. Of course it's not a real problem because, well, he's the world #2 and you just can't be sad for playing like Djokovic. Thing is, Nole is slightly better and that's why today's match had that upshot: most points were decided by errors (both forced or unforced) and Novak won again. I'm not sure about how accurate is this argument as long as Andy has already defeated Nole in Grand Slam finals and I really want their rivalry to be more thrilling.

Since last year's Indian Wells tournament that I am predicting Milos Raonic to win a Major title soon, and once again I chose him as my darkhorse for Australian Open. The Canadian didn't disappoint me and was indeed very close of doing better than I expected by forcing Murray to play a five-set match to defeat him (and his body). I'm not sure if this will already be Milos' year, but he has serious chances to do no less than the same result in both Wimbledon and US Open.

About ladies' tournament, it was a really historical achievement for Angelique kerber as long as she became the first German to conquer a Major title since the first digit of the year changed to "2"! I still remember watching an young(er) Angie reaching US Open 2011 final and becoming a regular top10 player since, and I was quite mad with myself for skipping women's final last Saturday thinking Serena would easily win once more. After facing a match-point in the first round, Kerber did an outstanding tournament and her victory in the final versus probably the best player ever makes me very happy for the new world number two.

Also, Serena hugging Angie was beautiful. This is why I love tennis, you can never have an excuse to be a dick (or a bitch) in order to get good results. She's still the best tennis player at the moment and is always the main favorite to win any title and she just doesn't give a fuck about what people may or may not think about her. And that's just what sports are about.

Pedro Mendes