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terça-feira, 19 de maio de 2015

Bicampeões!

Já está! Custou mas foi. Foram muitos os momentos em que não acreditei, a começar desde logo pela pré-época (levámos quatro golos do Sanogo...), mas aqui está o bicampeonato, o primeiro desde 1983/84.

Antes de mais, sim, foi merecido. Colinho? Os clubes grandes são sempre beneficiados, e todos, todos os adeptos de futebol que tenham olhos na cara sabem isso. Agora, sim, há uns que costumam ser mais beneficiados que os outros, mas o engraçado é que esses é que se vêem queixar de arbitragens... Eu se tivesse um presidente condenado por corrupção desportiva e que tenha dito que só os burros é que falavam de arbitragem, não abria a boca quanto a esta temática. Mas isto sou só eu.

E aliás, não falava eu, nem devia falar o meu treinador. O Porto costuma ter treinadores classless, mas como este Julen Lopetegui nunca tinha visto. Uma coisa é um Vítor Pereira, que de facto é um parolo mas percebe da coisa - o homem só perdeu um jogo do campeonato em duas temporadas, é um feito e é um grande feito -, outra coisa é, de facto, não saber como gerir um dos melhores plantéis de sempre do Porto... Porque sim, em dez campeonatos com Porto e Benfica com estas equipas, o Porto ganhava nove. Ainda bem que este não foi nenhum desses anos. E parece que nenhum treinador espanhol consegue ser campeão em Portugal.

Porém, isto não é, de todo, razão para o nosso vice-presidente vir descer ao nível deles e destilar ódio pelas redes sociais. Mesquinhices e tentativas de manipulação da comunicação social é com eles, não é connosco. Nós somos o Benfica, o Maior clube do mundo - segundo nós próprios -, portanto, que tal nos comportarmos como tal? Que vergonha é aquela em Guimarães e depois no Marquês, onde tive de correr para não levar com garrafas em cima de malta que não faz a mínima ideia do que é festejar?! Costumava dizer que o Benfica era demasiado grande para Portugal, devido a estes incidentes que acontecem e sempre acontecerão, mas com "cartas abertas" como essa do Rui Gomes da Silva, talvez só tenhamos o que merecemos.

Apesar de ter aplaudido o JJ, quando apareceu no palco, não aplaudi o Vieira. A continuidade do Jesus era boa, pois de facto agora o melhor é ele sair num ano que não seja campeão - e o pessoal fala, mas ele em 11/12 provou que sabe passar da fase de grupos da Liga dos Campeões. Agora o LFV, continua a dividir-me, e não é pouco. É verdade, o projeto tem corrido bem e ele é o grande responsável por ter mantido o treinador quando toda a gente o queria condenar após aquele Maio de 2013, mas as promessas falhadas de apostar na formação, a política de transferências... Não sei, talvez sejam todos assim, no fundo. Neste momento, pelo tri, estou mais pela continuidade.

Sim, rumo ao 35! Cânticos de "O Campeão voltou" já não se aplicam, pois de facto o campeão manteve-se! É esta a cultura de vitórias que queremos ter, que queremos interiorizar cada vez mais. Fomos bicampeões pela primeira vez em mais de trinta anos, três décadas em que o Porto ganhou tudo o que havia para ganhar a todos os níveis e nós ficámos a penar. Agora, é a vez de, como eles gostam de dizer, as coisas voltarem ao normal, que é o Benfica campeão e TUDO A SALTAR, TUDO A SALTAR, TUDO A SALTAR!

Pedro Mendes

sábado, 16 de maio de 2015

See you soon, Stevie

25 de Maio de 2005. Ainda morava na primeira casa onde ficámos desde que tínhamos vindo de Chaves para o Tramagal, e lembro-me perfeitamente de estar a ver a segunda final da Liga dos Campeões de que me lembro (no ano anterior, recordo-me de o meu vizinho me perguntar quem ia ganhar e eu, sem hesitar, ter respondido "Mónaco" sem fazer a mínima ideia de quem eram).

Istambul. Ou antes, no meu caso, o sofá de minha casa, onde me encontrava a ver a bola após ter cortado o cabelo nessa tarde e me estar a achar parecido ao Dida (sim, eu era um puto um bocado parvo). Era a primeira temporada de futebol que eu estava a acompanhar desde o início, o Benfica do Trap tinha sido campeão uns dias antes e, portanto, a época acabava ali, na única cidade do planeta localizada em dois continentes diferentes, com um duelo entre o Liverpool FC e o AC Milan pelo maior troféu do mundo do futebol.

Lembro-me de o Liverpool chegar à final sem saber muito bem como. Vínhamos da fase de classificação onde até perdemos em casa com o Grazer AK depois de termos ganho por 2-0 na Áustria, foi necessário ganhar ao Olympiakos na última jornada para passarmos da fase de grupos e, contra o Chelsea, nas meias-finais, o Luis García marcou um golo tão duvidoso que, ainda hoje, se pode ouvir o Mourinho a dizer que a bola não entrou - se bem que muito do que ele diz é apenas e só por causa da sua imagem, pelo que coerência não é com ele. Chegávamos, assim, ao encontro decisivo frente ao grande AC Milan, tão grande, que ao intervalo já estávamos a levar três secos (um do eterno Paolo Maldini, logo a começar, e outros dois do clínico Hernán Crespo, a "vingar" o clube que o havia emprestado aos rossoneri nessa temporada).

Mas bem, estamos a levar três. Não somos favoritos, e ter chegado à final já era um grande feito. Porém, somos o Liverpool Football Club, quatro vezes campeão europeu nos anos 70/80 e clube mais titulado de Inglaterra (à altura, pois se estás vinte e cinco anos sem ser campeão, eventualmente és ultrapassado). Portanto, tal como disse o Rafa Benítez ao intervalo, vamos dar a volta a esta merda, pois "se marcarmos um golo, eles vão ficar na mesma pois são o fucking AC Milan. Mas se marcarmos o segundo logo a seguir, aí eles já vão tremer". E foi precisamente isso que aconteceu.

E quem marcou esse primeiro golo, nove minutos depois de a segunda parte ter começado? Sim, foi ele mesmo. Foi o mesmo homem que marcou os dois golos em Graz. Foi o mesmo homem que "disparou" de fora da área aos 86 minutos para fazer o 3-1 frente aos gregos em Anfield, tranquilizando assim o Kop e permitindo-nos igualar os seus dez pontos. Foi o mesmo homem que tinha feito a sua estreia com a camisola Red seis temporadas antes e que ficou em terceiro na Bola de Ouro desse ano de 2005. Falo, claro está, de Steven George Gerrard.

A vitória em Istambul foi, provavelmente, o maior feito da carreira deste homem, que cinco dias depois chegava ao quarto de século de idade. Ele que podia ter saído no final dessa temporada para o Chelsea, o clube da moda da altura e com um treinador que o apelidou de "adversário mais difícil que enfrentei" e que, anos mais tarde, o tentou de novo contratar quando esteve no Inter e, depois, no Real Madrid. Mas Gerrard ficou. Diz-se que o fez porque viu adeptos queimarem camisolas suas e a ameaçá-lo de morte; no entanto, não é isso o "prato do dia" no mundo do futebol, e logo em Inglaterra onde parece que a maioria dos adeptos tem uma definição idiota de lealdade (onde é que o Fàbregas ir para o Chelsea é traição ao Arsenal, se ele entre os dois esteve em Barcelona e o próprio Wenger o recusou no Verão passado?!)?

Segundo palavras do próprio, ele é simplesmente um adepto do Liverpool que cumpriu o seu sonho. No seu pico, Steven Gerrard tinha sido titular em qualquer equipa da Europa. Porém, quando se sente uma camisola, sente-se-a mesmo. Mesmo quando a maioria dos jogadores à tua volta são demasiado bem pagos para o que jogam, mesmo quando o teu clube gasta quantias estúpidas de dinheiro em futebolistas que não valem nem metade e contrata treinadores banais, mesmo quando, ano após ano, continuas sem ter ganho a Premier League (e apesar de já teres quase tudo o resto), o que te leva a ficar só pode ser amor à camisola. E o que te leva a sair também, pois chega uma altura em que te fartas e, com quase 35 anos, se não for agora que terás uma nova aventura, nunca será.

Hoje, em mais uma derrota vergonhosa do Liverpool que resume a carreira de Gerrard nos Reds - num jogo importante, neste caso em termos emocionais, todos se escondem atrás do Capitão -, foi o final de um ciclo. Foi o último encontro em Anfield Road do último "sobrevivente" do onze inicial da final de Istambul. Ainda haverá mais um, em Swansea para a semana, e a partir daí passará a ser estranho ver os vermelhos de Merseyside jogarem sem o seu Eterno Capitão, um jogador cuja importância se vê no que os adversários dizem dele: primeiro, é referido em metade dos cânticos dos adeptos com dez anos de futebol do Chelsea (o outro consiste em repetir o nome do clube), e segundo, é tão venerado pelos adeptos do Manchester United que não há jornada da Liga Inglesa onde eu não veja pelo menos um tweet sobre o Stevie. Os adeptos ingleses, no coletivo, são os melhores do mundo, mas individualmente parece-me que a maioria são uns mesquinhos que não gostam assim tanto de futebol mas antes do seu clube.

Estive para ir a Anfield no final de Janeiro, quando soube que ele ia abandonar o clube no final do ano. Se voltasse atrás não conseguiria ir na mesma, mas um dos meus objetivos de vida era vê-lo ao vivo. Porém, tenho "sorte", pois as lendas são eternas, e o Capitão é uma delas. Nunca me esquecerei da sua expressão de felicidade ao levantar a "orelhuda" naquela noite de Maio de 2005. E tenho a certeza que essa expressão tem sido sempre a mesma desde que este adepto de Whiston, uma pequena cidade a cerca de 10km de Liverpool, começou a ver o seu clube do coração a jogar. E tenho a certeza que, quando voltarmos a ser campeões ingleses - que vamos voltar, pois somos o Liverpool Football Club -, continuará a ser a mesma. Pois se há pessoa que merece ouvir que nunca irá caminhar sozinha, essa pessoa é Steven George Gerrard.

Pedro Mendes