Parece que tem hoje lugar mais uma manifestação contra as medidas de austeridade, a troika, o governo, a educação e todos os motivos que os manifestantes arranjem para protestar nas ruas. E aqui estou eu, em frente ao computador, com a televisão ligada e a pensar no sentido que isto faz.
Okay, por acaso no momento em que estou a escrever isto estou mais a pensar no que vou lanchar mas como se tem falado nisto ao longo do dia decidi escrever qualquer coisa, já que também não tenho publicado desde Janeiro.
Em primeiro lugar, eu não sou contra o protesto; até sou a favor. Como diria o filósofo francês Albert Camus - alguma coisa tem de ficar na cabeça após ter tido dois anos de Filosofia -, a revolta é uma necessidade do ser humano, que é naturalmente revoltado com o que não lhe agrada e que portanto tem o direito (e dever, talvez, de se revoltar). Eu pessoalmente defendo isso, que nos devemos revoltar, mas temos de saber o que estamos a dizer e a fazer.
Okay, por acaso no momento em que estou a escrever isto estou mais a pensar no que vou lanchar mas como se tem falado nisto ao longo do dia decidi escrever qualquer coisa, já que também não tenho publicado desde Janeiro.
Em primeiro lugar, eu não sou contra o protesto; até sou a favor. Como diria o filósofo francês Albert Camus - alguma coisa tem de ficar na cabeça após ter tido dois anos de Filosofia -, a revolta é uma necessidade do ser humano, que é naturalmente revoltado com o que não lhe agrada e que portanto tem o direito (e dever, talvez, de se revoltar). Eu pessoalmente defendo isso, que nos devemos revoltar, mas temos de saber o que estamos a dizer e a fazer.
Queremos mandar o governo abaixo. Certo, o governo cai... e depois? Nós somos um eleitorado muito fácil de convencer: votamos em quem prometer que nos dará dinheiro, ou pelo menos que não nos tirará.
É sempre isto que acontece nas eleições. Claro que os políticos têm culpa em prometer o que não vão cumprir, mas eles fazem isso porque sabem que se falarem "verdade" ninguém vota neles; alguma vez elegiríamos para primeiro-ministro um homem que dissesse que a austeridade ia continuar e talvez até aumentar? Claro que não! Por isso é que aquele banana do António José Seguro veio hoje dizer que os portugueses "têm direito a estarem indignados". Porque se fosse com ele no governo, não haveria austeridade e estaríamos todos ricos não é?
Há bocado vi também um rapazinho a dizer "temos de vir para a rua protestar para que a troika se vá embora". E depois de a troika se ir embora, como os teus pais te disseram que é o melhor que pode acontecer ao país, quem é que paga a dívida? Vais tu ao Monopólio buscar notas de 500 para pagar?
Repito, também estou descontente com o facto de sermos nós que estamos a pagar uma crise pela qual não somos responsáveis e termos cada vez menos dinheiro. Porém, temos de tentar olhar imparcialmente para o que se passa e tentar perceber o que se deve fazer!
É um facto que andámos a viver acima das nossas possibilidades; sim, os outros países também mas não são esses países que têm de resolver o nosso problema - nem a Alemanha, que nós gostamos tanto de dizer que são a fonte de todo o mal mas eles estão a perder dinheiro connosco e quando entrámos para a UE estava no Tratado uma cláusula que dizia que nenhum país era responsável pela dívida dos outros. Portanto, somos nós que temos de pagar isto; quando digo nós não me refiro especificamente a nós, contribuintes.
São os bancos e os políticos corruptos que temos que são os principais responsáveis e devem ser punidos pelos seus actos, mas nós também teremos sempre que pagar pois o povo é a maior classe social do país. Daí não me opor contra a perda do 13º e 14º mês. Vou ser sincero: ficava chateado se me cortassem esses dois subsídios, claro que ficava. Mas se pensarmos bem, é injusto recebermos "apenas" doze ordenados por doze meses de trabalho? Se trabalhamos para x, recebemos x! Em tempos de crise penso que ter um subsídio já é de certo modo descabido, então ter dois é mesmo um gasto de dinheiro dispensável.
Depois, sempre que vejo alguém a entrevistar um manifestante e lhe pergunta em quais seriam as soluções que tanto proclamam, as respostas são sempre as mesmas: "o governo é que sabe", "não sei, mas de certeza que há", "qualquer coisa seria melhor do que isto". Basicamente, protestamos por mudanças que nem sequer sabemos conjeturar? Onde está aqui a coerência que pedimos aos nossos políticos?
É que não há solução. Fizémos merda, entrámos em crise, e saíremos com muito sacrifício. Se o sacrifício não tem de cair quase totalmente no povo? Obviamente que não, eu próprio também estou descontente. Mas cairá sempre sobre nós, e temos de entender isso.
Há bocado vi também um rapazinho a dizer "temos de vir para a rua protestar para que a troika se vá embora". E depois de a troika se ir embora, como os teus pais te disseram que é o melhor que pode acontecer ao país, quem é que paga a dívida? Vais tu ao Monopólio buscar notas de 500 para pagar?
Repito, também estou descontente com o facto de sermos nós que estamos a pagar uma crise pela qual não somos responsáveis e termos cada vez menos dinheiro. Porém, temos de tentar olhar imparcialmente para o que se passa e tentar perceber o que se deve fazer!
É um facto que andámos a viver acima das nossas possibilidades; sim, os outros países também mas não são esses países que têm de resolver o nosso problema - nem a Alemanha, que nós gostamos tanto de dizer que são a fonte de todo o mal mas eles estão a perder dinheiro connosco e quando entrámos para a UE estava no Tratado uma cláusula que dizia que nenhum país era responsável pela dívida dos outros. Portanto, somos nós que temos de pagar isto; quando digo nós não me refiro especificamente a nós, contribuintes.
São os bancos e os políticos corruptos que temos que são os principais responsáveis e devem ser punidos pelos seus actos, mas nós também teremos sempre que pagar pois o povo é a maior classe social do país. Daí não me opor contra a perda do 13º e 14º mês. Vou ser sincero: ficava chateado se me cortassem esses dois subsídios, claro que ficava. Mas se pensarmos bem, é injusto recebermos "apenas" doze ordenados por doze meses de trabalho? Se trabalhamos para x, recebemos x! Em tempos de crise penso que ter um subsídio já é de certo modo descabido, então ter dois é mesmo um gasto de dinheiro dispensável.
Depois, sempre que vejo alguém a entrevistar um manifestante e lhe pergunta em quais seriam as soluções que tanto proclamam, as respostas são sempre as mesmas: "o governo é que sabe", "não sei, mas de certeza que há", "qualquer coisa seria melhor do que isto". Basicamente, protestamos por mudanças que nem sequer sabemos conjeturar? Onde está aqui a coerência que pedimos aos nossos políticos?
É que não há solução. Fizémos merda, entrámos em crise, e saíremos com muito sacrifício. Se o sacrifício não tem de cair quase totalmente no povo? Obviamente que não, eu próprio também estou descontente. Mas cairá sempre sobre nós, e temos de entender isso.
Resumindo: em frente ao pc a dizer merda é que estamos bem.
ResponderEliminarSim, e acho que fizeste muito bem em ilustrar o teu argumento com o teu próprio exemplo.
ResponderEliminarAo contrário de ti, eu não passei a minha tarde a pensar no que ia lanchar. Estive na manifestação, desci a Avenida da Liberdade e cantei o Grândola em uníssono no Terreiro do Paço. O que estive lá a fazer? A mostrar a minha indignação pelo que este Governo, apoiado pelas instituições europeias, está a fazer ao país onde eu cresci e vivo. O Governo que faz diariamente com que milhares de pessoas sejam forçadas a emigrar. O Governo que contribuiu para que os meus pais e tantos amigos meus, pessoas capazes e com vontade de trabalhar, estejam desempregados. O Governo que me diz que eu não posso comprar uns sapatos porque é viver acima das minhas possibilidades mas que anda vestido de Hugo Boss. O Governo que acha uma fortuna ganhar acima de 600 euros. O Governo que está a privatizar tudo o que ainda temos de património. O Governo que tem Miguel Relvas como primeiro-ministro. O Governo que acha que a educação e a saúde são um acessório. Estive lá a reivindicar a demissão deste Governo porque SIM, acredito que isso é melhor para o MEU país. É um direito que tenho e, acima de tudo, um dever. Se tu, Pedro, ainda podes ter a preocupação do que vais lanchar fica sabendo que há muitos, cada vez mais, que se têm de preocupar SE vão ter comida para o lanche. Fico contente que não seja o teu caso, mas relembro-te que em breve serás tu que vais acabar o teu curso e, provavelmente, ficar sem emprego. Vais ser tu a ter de equacionar emigrar. Vais ser tu a receber, com sorte, 400 euros por mês a recibos verdes (informo-te que com esta modalidade não tens direito a esses papões, os subsídios)e sem ter direito sequer a férias ou meter baixa se tiveres doente. Depois quero ver se sorris e se continuas em frente ao computador "a pensar no sentido que isto faz".
ResponderEliminarO que eu escrevi foi um texto de opinião, nada mais. Quando digo que estou a pensar no que vou lanchar não estou a incutir nenhum segundo sentido a essa afirmação ou algo parecido que possas pensar. Não penses que estou a falar de barriga cheia, pois também vejo dificuldades nos meus amigos, na minha família e como fiz questão de dizer neste post também estou descontente com a situação que passamos. Apenas quis partilhar a minha opinião de que penso que estamos a agir e a pensar mal, apesar de termos toda a razão no protesto. Como deves calcular, não me agrada pensar que quando acabar o meu curso vou para o desemprego mas pessoalmente não acho que seja a exigir dinheiro ao governo que vou lá pois o governo não tem esse dinheiro sequer. Claro que eles devem antes de nós dar o exemplo, mas nós não podemos estar à espera de que não sofrer cortes. Sim, podes-me também dizer que sou só um estudante universitário, que ainda não estou no mercado e que portanto não sei do que falo; acredita que sei do que falo, simplesmente tenho outra maneira de pensar e não escrevi isto para mudar o teu pensamento. Acho que fazes bem em protestar, é um direito como disseste e bem, agora eu pessoalmente acho que o protesto nestes moldes e nestas reivindicações não vai levar a lado nenhum. Mas isto sou só eu.
ResponderEliminarAh, então se sabes do que estás a falar nem vale a pena dizer mais nada. Certamente és mais vivido e sabes mais do que os senhores de oitenta anos, as pessoas de cadeira de rodas ou os pais com bebés ao colo que eu vi a gritarem na manifestação. Mas essas pessoas estavam a ser inúteis, não é? Pois, esqueci-me que tu, em frente a um computador a mandar postas de pescada, estavas a fazer muito mais. Já agora, sabes porque é que tu hoje podes viver em liberdade, sair à noite e estudar? Porque, há quase quarenta anos, houve quem saísse à rua e fizesse estas coisas inúteis. E outra coisa: eu não peço ao Governo que me dê dinheiro, exijo sim que não me tirem o que é meu por direito. Mas tu também deves saber tudo sobre isso, aposto.
ResponderEliminarEstás-me a deturpar. Onde é que eu disse que alguém estava a ser inútil? Onde é que eu disse que sabia mais do que alguém? Só te disse, a ti, que escrevi isto porque acredito que sei do que estou a falar. Chama-lhe arrogância, chama-lhe o que tu quiseres, mas eu não tenho por hábito escrever sobre coisas que não sei só para criar polémica ou ter pessoas a ler o que escrevo. Tenho este blog para escrever o que bem me apetece e falar do que quero, e não para dar lições a ninguém. Nunca disse também que o governo te deve tirar o que é teu por direito, disse apenas que o português vota no político que lhe promete dar dinheiro mesmo nestas situações em que está à vista que é IMPOSSÍVEL para qualquer gajo que esteja lá não fazer cortes. É o que eu acho, e não estou a pedir a ninguém que ache o mesmo. Concordo mais contigo do que o que tu pensas.
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