E assim acabou 2012 com a final da Taça Davis em Praga. Após a temporada WTA já ter terminado há duas semanas, com a final da Fed Cup (também na capital checa), e depois do final das ATP World Tour Finals de Londres, hoje foi disputada a 100ª final da competição mais importante de seleções a nível masculino e termina assim a temporada de 2012 em termos tenísticos.
Foi uma final muito renhida, que eu nem sempre tive oportunidade de acompanhar mas fico satisfeito com os encontros que pude ver. De um lado, a seleção da casa República Checa que perseguia a sua primeira "saladeira" desde a desintegração da Checoslováquia - haviam ganho juntamente com a Eslováquia em 1980, no tempo de Ivan Lendl; do outro lado da rede, estava a habitual seleção espanhola, que perseguia a sua quarta Davis Cup em cinco anos (tirando 2010, ano da célebre vitória de Novak Djokovic e companhia, Espanha vinha desde 2008 confirmando cada vez mais a sua ascensão como principal potência do ténis masculino). De facto, em 2009 os dois países já se haviam defrontado, com os checos a sofrerem uma copiosa derrota na terra batida de Sevilla.
Porém, este ano não se passou assim. A final era em Praga, em piso rápido (rapidíssimo, como disseram os espanhóis), e Espanha partia sem a sua principal figura, o antigo número um mundial Rafael Nadal - Rafa é quase imbatível em terra batida, mas mesmo noutras superfícies é sem dúvida superior a qualquer outro espanhol; além disso, Alex Corteja deixou no país vizinho Feliciano Lopéz, que se diz ser o especialista espanhol em pisos rápidos (pessoalmente, acho que ele não é especialista em coisa alguma) e levou antes Nicolas Almagro, nº11 mundial mas extremamente inconstante mesmo em terra batida.
Porém, nem tudo estava mau do lado espanhol; o valenciano David Ferrer estava na comitiva, motivadíssimo após um ano de sonho (terminou a época com 76 vitórias e sete títulos, mais do que qualquer outro tenista) e com o seu primeiro evento Masters 1000 da carreira "no bolso", conquistado há duas semanas em Paris em... piso rápido. A dupla espanhola também era à partida de classe mundial, sendo formada por Marcel Granollers e Marc López, recem-vencedores do Masters de Londres, mas sem experiência nesta competição, como se viu.
Já a equipa da casa, partia em teórica desvantagem em termos individuais mas com muita vontade. Os tenistas que jogariam em singulares eram o nº6 do mundo Tomas Berdych e o nº37 Radek Stepanek, este último antigo oitavo tenista mundial. Já o jogo de pares seria jogado pela dupla Ivo Minar e Lukas Rosol, conhecido pela derrota imposta a Nadal na segunda ronda de Wimbledon e que foi também o último encontro do espanhol da temporada. Na prática, a dupla de pares foi formada por Berdych e Stepanek e acabou por resultar em cheio, tal como havia resultado na meia-final diante da Argentina - e Stepanek já tinha vencido o Open da Austrália 2012 em pares.
Passando à final propriamente dita: o primeiro encontro, David Ferrer vs Radek Stepanek, não vi e vim depois a saber que o espanhol havia vencido em três sets apesar da luta do veterano tenista checo. Nada de surpreendente, considerando a recente forma de Ferrer e o declínio de Stepanek nesta sua fase da carreira. Achava que a final se ia decidir nos encontros do Berdych e no par, e parcialmente acertei.
Nesse segundo encontro, Tomas Berdych derrotou Nicolas Almagro em cinco sets num encontro muito disputado, eles que já no Australian Open desde ano haviam protagonizado um episódio polémico - Almagro atingiu Berdych com uma bola na rede e no final do encontro o checo recusou cumprimentar o espanhol. Na sexta-feira, Berdych podia ter fechado em quatro mas o Almagro ainda forçou a negra antes de ceder o ponto para o empate; "pase lo que pase", só no domingo se saberia o vencedor.
Sábado foi dia do jogo de duplas. Como já referi, a República Checa anunciou uma dupla diferente da prevista para o encontro de pares e, após terem perdido o primeiro set, Tomas Berdych e Radek Stepanek venceram o encontro e punham o seu país a apenas uma vitória do título da Taça Davis!
Hoje, domingo, foi o dia das decisões. Pensava que seria Tomas Berdych a decidir a vitória no seu encontro contra David Ferrer, mesmo sabendo da boa forma do espanhol, mas parece que me enganei. O checo simplesmente não esteve ao nível necessário e o valenciano a jogar assim só perde mesmo para os tenistas do Big-Four, seja em que superfície for (menos em terra, onde se pode perfeitamente bater de igual para igual com o Djokovic e o Federer). Em três sets, David Ferrer vencia o encontro e dava a Nicolas Almagro a hipótese fechar a final a favor de "nuestros hermanos".
No 5º encontro, Almagro não contava certamente com um Radek Stepanek inspiradíssimo. O veterano checo, muitas vezes mal-amado pelo público e imprensa, mostrou a todos os críticos que a República Checa podia contar com ele e numa exibição bastante boa - longe da perfeição mas não muito longe -, o marido da antiga tenista Nicole Vaidisova venceu em quatro partidas e deu ao seu país a tão aguardada Taça Davis.
Acabou por ser uma derrota um bocado amarga para os tenistas espanhóis que jogaram singulares; David Ferrer venceu os seus dois encontros sem perder qualquer set e Nicolas Almagro esteve mais de sete horas em campo para perder os seus dois embates. Foi uma justa vitória checa, e ainda bem que assim foi para quebrar um pouco a hegemonia espanhola...
Com este resultado, a República Checa vence a sua primeira Taça Davis enquanto nação independente e torna-se no primeiro país a vencer na mesma temporada a Hopman Cup (torneio de início de ano de seleções), a Fed Cup e a Davis Cup. Nestas conquistas, os heróis das finais acabaram não por ser Tomas Berdych e Petra Kvitova - ambos nº1 checos e presenças recorrentes no top-10 mundial - mas sim Radek Stepanek e Lucie Saforava, habituados a viver na sombra de Berdych e Kvitova em tempos recentes.
E é tudo. Cumprimentos,
Pedro Mendes
E é tudo. Cumprimentos,
Pedro Mendes
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